É preciso uma nova Escola
Vai por aí uma enorme preocupação sobretudo das famílias sobre como vai ser lecionado o terceiro período do ano escolar.
Se a matéria é para dar na totalidade; se os alunos com pouco ou nenhum aproveitamento vão reprovar, ou ficar retidos; se os exames de acesso à universidade vão ou não ter em conta o tempo excecional em que vivemos; se os professores vão sobrecarregar os alunos com trabalhos e mais trabalhos… e mais e mais. Os pais, muitos em situações de teletrabalho, desempregados e outras, queixam-se de impreparação cientifica e pedagógica para ajudar os filhos, sofrendo também estes os efeitos da clausura.
A escola não está a responder às suas inquietações.
Aliás, aulas à distância, pela telescola, com os mesmos currículos e disciplinas, só fazem sentido se for para manter tudo como está. Todavia, digitalizar o sistema educativo vigente não faz sentido.
Já se percebeu, nestes dias de clausura, que a sociedade e o mundo têm de dar uma volta. Em todos os setores sociais, económicos e até religiosos.
Os exemplos de solidariedade, de ajuda mútua e fraterna, de prática da boa vizinhança são tão convincentes que os cidadãos já não se integram em meios e sistemas sociais e económicos discriminatórios, que criam desigualdades de oportunidades e beneficiam o amiguismo, o compadrio e o salve-se quem puder.
Também o ensino tem de responder a estas novas aspirações humanistas, contrárias ao paradigma neoliberal que nos trouxe até aqui.
O Ensino e a escola, recorrendo às novas plataformas digitais, tem de ser agentes da transformação. Criando grupos de discussão entre alunos e professores, abolindo as tradicionais exposições ex-catedra; não obrigando os alunos a disciplinas e programas formatados a um sistema económico caduco que impõe competências voltadas apenas para a produção de bens que promovem um consumismo desmedido.
Ao contrário, pretende-se um ensino que vise o desenvolvimento das capacidades humanas e intelectuais, a criatividade, a iniciativa, a partilha, a alegria do saber e a proteção do ambiente, e envolva todos num projeto que responda aos novos tempos,
Presentemente não é este o paradigma educativo.
Isto bastaria para governos, Escola, professores e educadores pararem para pensar na forma e conteúdos do ensino ministrado à distância.
Mais vale encontrar um ensino que proporcione às crianças o desenvolvimento da sua criatividade, e da compreensão dos dias que vivem, do que impingir-lhes conhecimentos impossíveis de assimilar na prisão de quatro paredes.
Se estas preocupações que afetam milhares e milhares de pais não forem tidas em conta, os responsáveis políticos demonstram incapacidade para transformar o ensino e responder às preocupações e dificuldades das famílias.
Pretender continuar o main-stream e o sistema económico atual, é ter os olhos fechados à nova realidade que já todos vemos.
A pandemia veio provar, e os maiores pensadores afirmam-no à boca cheia que: Mudar a sociedade é preciso: na educação, na economia, na indústria, na agricultura, na saúde, etc, com vista a uma sociedade mais inclusiva, mais justa e solidária.
Toda a mudança de mentalidades tem por base a Escola – o ensino: Vale a pena abrir caminho a um mundo novo que, quer se queira quer não, já começou.
Sendo certo de que só os mais corajosos e destemidos, ganharão o futuro.
12abril2020