Arquivo mensal: Agosto 2019

I’VE BEEN TO BALI TOO 1974-1975 e o Francisco Sarsfield Cabral tb…

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Always good to remember this tune! good to remember but I was in Bali back in 74 and 75, tooooooo..

I’VE BEEN TO BALI TOO
https://www.facebook.com/watch/?v=1790156457663031

a propósito desta música, dos anos 80, que devem ouvir antes de lerem o resto…

 

recordo a minha estadia por Bali, 1974 e 1975, onde comprei um restaurante, vivi e estive quase a ficar a viver para sempre recordo esta descrição poética

467. bali (fev. 10, 1976) (em anexo)

I

tapem depressa esse sol imenso

apaguem o cinzento em todas as nuvens

consumam o ar respirável e grátis

(se ainda restar)

abatam a machado o castanho

das árvores verdes

drenem rios e mares

se ainda impolutos

nas pradarias plantem de concreto

gaiolas de gente

ocultem céus sob ondas esfumosas e azuláceas

(talvez grisalhas)

embalem-nos com místicas melopeias

estrídulos klaxons e apitos

ultra e infrassons

metálicos

mecânicos

como o homem

cantem do aço as palavras

de titânio

e do urânio façam diálogos atómicos

(sem esquecer plutónio, árgon e os outros)

escavem galerias subterrâneas

labirínticas

por fim

(se houver quem o faça)

semeiem cabeças de mulher

nos caules peciolados

o kif

o hash

o peyote

viagens de mescalina ao centro do mundo[1]

delirem com wakeman

os cogumelos mágicos

gigantes do riso

sem vontade nem siso

sensações novas por inventariar

seis horas sob chuva cósmica

celeste mergulho de cadentes estrelas

mil sóis

o ritmo primário

a cadência beat

memória ancestral

poesia mística de pedras por decifrar

o voo atávico

alento último no suor dos corpos

dança da chuva em trajo de circunstância

vindos de nem-eu-sei donde

marte, talvez

fantasmas antigos

soletram segredos esquecidos

castelos sem tempo

alquimias sem espaço

olhos dilatados nas lonjuras

lágrimas aceradas

espadas de gelo

sem medos

onde o cruzeiro do sul?

perguntam duas virgens

(fiz-me desentendido)

voguei no vento sobre as areias

ali mesmo

caminhámos séculos

até ao fim das bocas

esperma salgado

púbicas efluvescências

II

Já destruíram a face ao planeta! – exclamo

pássaro algum entoou o cântico da meia-noite

é dia

esquecido de mim

perdido sem lembranças

ou nome

ou nexo

o sexo viril

húmido

pendente

de tuas ancas descarnadas

vagina sem dono

no pomo desta maçã

percorro deltas de fomes infenecidas

farejo bosques que urbe alguma sepultará

cerca da fogueira

teus ossos me ardem

remoçaste um parto louco

sedes irreprimidas

III

ANIMALS!

sussurra incrédulo o gordo careca

agita branco de raiva (ódio?) seu panamá

nasty pigs!

rosna a dona do pekinois rançoso

espojavam-se nas rochas

sem dunas

vasado o sémen no útero peregrino

gemia sussugante wonder alice

nas maravilhas do meu país

nuas órbitas

olhos e phallus

plástico transistor aos sapatos da jovem

sem pés

vozear rítmico do kecak[2]

balinês de nove séculos

woodcarven e batiks[3]

bikinis por vender

pele tostada e suja

ávidos de americanos turistas

o pregão infantil

o coloquial regateio do preço

ridiculamente pequeno

dez vezes menor

o exorbitante exagero do trabalho

dez vezes mais gratuito

duas notas de dólar por mil sorrisos

cheias mãos de antiquário

comprador de almas

sem sonhos

IV

longe o surf

o vulcão silente de kintamani

corais

tubarões

pesca artesana

a sombra supersónica dos jumbos

milhares flutuantes

vómito infrene de gente

esvaziar o bojo e (re)partir

busca antiga de sentir novo

despir dos hábitos a gravata

férias sem rosto

historietas futuras

tédio adiado

burguês camuflado às flores

camisa, shorts e soquetes

chapéu de palha e sombrinha

óculos fumados e charuto apagado

embuste inexperienciado

o juro da alienação quotidiana

salário vitalício

a casa

a sagrada família

esta a pausa breve

fotos instantâneas a três cores

souvenirs de imitação

bagagens de bugigangas

gorjetas também.

V

no colmo da cabana o fumo denso

balbuciar desculpas

correr nu pelo palmar

beber o coco e o leite

shiskebab de formiga[4]

vegetais

soja

chilli[5]

vinho de arroz, chau ming e vantans[6]

ninhos de andorinha

acorda amor!

buddha sticks[7]

ácidos paranoicos

cogumelos azuis

tão só para ti

paola

a chinesa nascida em itália

trincava bikkies[8]

marcello dormia com a heroína

bíblico moisés afagava em tróia

helena

jimmi hendrix em intravenosa experience

bev

a ruiva pintava originais de cetim

dick era ainda um dealer

foragido mas feliz

cérebros vazios

mas cheios

tão cheios

alheios

conversas jamais acabadas

empolgantes

no limiar infinito do genial

corpos balanceando cadenciados

afagos breves

sôfregos e sensuais

bebedeiras de suor sem calendário

cá fora o bailado sagrado de homens deuses

o self stabbing dos kris na carne crua[9]

terrífico ritual sem sangue nem dor

entre o êxtase e o clímax

caiem redondos de morte

atores da vida amadores

sacro licor os eleva de novo

investem frenéticos

descontrolados

oito possantes mãos os sustêm

macabro e belo espetáculo do barong[10]

iniciática peregrinagem

bali – a ilha

banjal tegal-buni o templo

civilização século XI

mescla hindú-nésia

kuta beach a praia

ngaben a cerimónia ao entardecer[11]

liberta do corpo a alma

a procissão

as flores

a grande festa da morte

oferendas na torre crematória

barcos cortejam as cinzas na noite

este o paraíso e já perdido

início?

fim?

viagem louca

a fome gelada de katmandu

o desprezo total em goa

lentos estádios da libertação

ardentes delírios tropicais

desconexa a fluente discursividade

arrastando da febre o esqueleto

comer sem fome

o gado-gado[12]

shop-suey

cap cay[13]

VI

janine a louca se masturba no térreo adobe da prisão

contrabando de narcóticos

denúncia premeditada

despeitado amante javanês

regressará num bemo[14]

quinze lugares sentados

três os meses em atraso

amigos em trânsito

ávidos dentes nos perama’s cakes[15]

árida sede dos Pernod’s à Poppies[16]

joe cocker era tema no estrado

a dutch princesa olhava altiva

sotaque rolado

juntos entoamos hinos odiosos

à europa distante

brian parodiava liverpool mineiro

chegando bliss e o seu petiz-lord

(made in grosvenor – londres

em buckingham um queer

marido e M.P. [17])

vestia 1920’s com capeline

abominava libras sem ouro

como quem despreza

katut lembrava o mote

alguns saíam em curta trip[18]

“please! no gettin’ loaded on poppies!”[19]

serviam um meat taco[20]

pineapple sundae[21]

sorriam-me “cum çtáz amigu”

e mais não sabiam

george encolhia ombros

lembrando a posse

resignada e terna joanne

dezoito apenas

brisbane [22]no início

topless e scarf [23]ao vento

rãs coaxavam no lago de nenúfares

ginsberg (alan) incómodo e desconhecido[24]

barry bongo[25] a tiracolo na guitarra

gestos adocicados

lenço cache-nez

kebaya antígua[26]

púrpura e cetim

barry mckenzie

vinte filmes épicos

dez mil cervejas

uma austrália de compêndio

alice springs e o deserto vermelho[27]

clare declamava shakespeare sem saber

VII

mais tarde houve luar em legian

margret falava de sindicalismo ACTU[28]

petiscando friend noodles[29]

éramos como jovens e ingénuos

helen ansiava banguecoque em reforços

vinte quilos de thai

bob hope cocada[30]

todos pintávamos em silêncio

infernos de dante

o allighieri

viver num losmen[31] é regressar

à amizade original

ao sabor de início de mundo.

VIII

noutra qualquer manhã

domingo

javanese dudes[32] excursionavam

pele alvar

kamera ao peito

flashes ao pôr-do-sol

como japoneses que não eram

anette a vegetariana

fugia da praia

imaginando-me russo branco

num curto intervalo de calendários

amor com caráter de despedida

ao canto chorava um xilo(bambu)fone

uncle sam perdia ao xadrez

desatento espreitava-nos.

IX

quando as chuvas voltaram

fomos a bangli

no sopé do vulcão

o lago e a negra lava

fazia frio

disfarçados de turistas

ma non troppo

ouvíamos um classical[33] tão americano

arengava anticomunismo[34]

anti-isto

anti-aquilo

(não mais me falaria

odiava desertores

antes isso!)

lascivo

comia os cabelos encarnados

do último tango em paris[35]

zanguei natalie f.

um nome francês e sardas verdes

xaile nos ombros nus

unhas lilás e preto

e branco e azul ou

saudades de torremolinos

olé!

julie

hospedeira pan-am

fornicava no lençol de flanela

intenso aroma evolava do chilum[36]

um casal de múmias ocidentais regateava estatuetas falsas

clapton matava o sheriff[37]

na esquina em frente um teatro de sombras

big fatty mardej mercadejava sarongs[38]

a pequena dayú comia babi kecap[39] em molho doce

karen acenava um adeus

até à coroação no nepal[40]

(e do futuro

uma voz gritava

era assim naquele tempo)

amarelecido retrato

tombou a meus pés

incomodado levantei-me

e saí.

[1] Rick Wakeman’s “Voyage to the centre of the earth”

[2]Kecak peça do folclore típico balinês (Bali, Indonésia) pronuncia-se kétchak

[3] woodcarven, arte escultural em madeira talhada e lavrada minuciosamente

batik, tipo de impressão a cores em tecidos, própria de Bali.

[4] espetadinhas de formiga assadas na brasa.

[5] especiaria muito picante à base de piri

[6] chau ming, massa alimentar chinesa, mais fina que esparguete

van tan, folhados fritos, típicos aperitivos chineses

[7] marijuana enrolada em pauzinhos atados e dopada em ópio

[8] diminutivo australiano para biscoitos

[9] Kris – adaga longa e recurvada. self-stabbing – autoflagelação com adaga.

[10] peça do folclore místico de Bali, séc. IX-XII

[11] cremação

[12] gado-gado, pronunciado gádú-gádú, salada vegetal típica da indonésia

[13] shop suey e cap cay (pron. tchá- tchái) comida típica chinesa, pequenos aperitivos feitos de legumes e vegetais em fogo forte.

[14] pronunciado bímo, transporte colectivo: pequena carrinha motorizada, com caixa fechada para passageiros, com capacidade de 6 a 15 pessoas, num espaço mais conducente ao transporte de quatro adultos.

[15] bolos de banana típicos do restaurante Perama.

[16] Poppies, bar mais conhecido e mais internacional de Kuta Beach, Bali, no início da década de 70. Arrasado em 1980 para dar lugar a mais um complexo turístico.

[17] queer – homossexual. M.P. membro do parlamento inglês.

[18] viagem em jargão de droga

[19] por favor não fiquem ‘pedrados’ no poppies.

[20] meat taco, enchilada, pão com carne á moda mexicana

[21] espécie de gelado ou sorvete de ananás

[22] importante urbe na costa nordeste da Austrália, capital do estado da Queenslândia

[23] topless – sem a parte superior (top) do bikini. scarf – lenço para o cabelo, cachecol, véu.

[24] alan ginsberg, poeta norte-americano, controverso e radical, famoso a partir dos anos 50.

[25] personagem típica de filmes australianos da década de 70, personalizando um australiano, mediano, e diferente dos restantes, europeizados.

[26] cabaia típica, originária da índia

[27] única cidade do interior desértico da austrália, no território norte, em pleno grande deserto vermelho.

[28] a central sindical australiana, Australian Confederation of Trade Unions

[29] massa alimentar chinesa, tipo esparguete que pode ser liso e chato ou muito fino, e servido em tipo sopa com vegetais, carne ou mariscos ou como prato principal acompanhado por vegetais, mariscos ou carnes

[30] thai , bob hope, dope – droga, marijuana da tailândia enriquecida com coca, ou mesclada com ópio

[31] losmen, casa comunitária: espaço habitacional aberto onde residiam os turistas mais económicos em bali, na década de 70

[32] saloios da ilha de java.

[33] típico, no pior sentido.

[34] a norte-americana e sul-vietnamita saigão cairia em 1975 nas mãos dos vietcongues, e estava assediada naquela época da guerra

[35] alusão sexual ao filme de marlon brando e maria schneider “o último tango”

[36] cachimbo cónico para fumar marijuana

[37] Eric Clapton “I shot the sheriff” LP 461 Ocean Boulevard

[38] vestido típico, tipo saia indiano e balinês

[39] pronunciado bábi kétchap carne de porco frita

[40] 11 fevereiro 1975, coroação milenária do rei do nepal

à esqª com o Francisco Sarsfield Cabral …. – Bali (doc word)

(ver memórias em https://blog.lusofonias.net/2019/08/09/a-velhice-e-feita-de-memorias-como-estas-de-bali/

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BaliBelly

Rewind back to 1984 when this #Redgum tune was an Aussie anthem! 🌴😎🌴who has been to Bali too? 🙋🏻‍♂️🙋🏼

o chef matou a cabra: polémicas vegan e outras (politicamente corretas, claro)

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Joao Paulo Esperanca added 3 comments.
Joao Paulo Esperanca

2 August at 15:23

A malta com os fetiches dos animaizinhos anda cada vez mais alucinada. Alguns só comem erva, outros comem carne mas pensam que esta aparece por geração espontânea nos frigoríficos dos hipermercados, sem que isso envolva a morte de animais.

Do artigo: «(…) também recebeu vários elogios na mesma rede social. ‏”As cabras são pestes, caçamo-las para comê-las diariamente… elas matam as nossas árvores e arbustos nativos se não matarmos algumas”, diz um fã da Nova Zelândia.(…)»

O cozinheiro está sob fogo cerrado nas redes sociais. Uncharted estreia em Portugal em Agosto.
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O cozinheiro está sob fogo cerrado nas redes sociais. Uncharted estreia em Portugal em Agosto.

A malta com os fetiches dos animaizinhos anda cada vez mais alucinada. Alguns só comem erva, outros comem carne mas pensam que esta aparece por geração espontânea nos frigoríficos dos hipermercados, sem que isso envolva a morte de animais.

Do artigo: «(…) também recebeu vários elogios na mesma rede social. ‏”As cabras são pestes, caçamo-las para comê-las diariamente… elas matam as nossas árvores e arbustos nativos se não matarmos algumas”, diz um fã da Nova Zelândia.(…)»

ligação aeroporto Ponta Delgada, finalmente

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José Pacheco shared a link to the group: Azores Today.

Autocarro vai ligar aeroporto de Ponta Delgada à cidade [Vídeo] | Fonte: RTP Açores (clique neste link para ver o video) ….. < Clique na imagem para ler mais > #azorestoday

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QUANDO AS MULHERES PRECISAVAM DE AUTORIZAÇÃO PARA SAÍREM DO PAÍS

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Cá por coisas

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Carlos Eduardo Nunes Diogo

Desta vez a Clara F. Alves acertou em cheio na mouche! Porque a memória é – muito – importante.É para ler. Mesmo.

“Tão felizes que nós éramos

Anda por aí gente com saudades da velha portugalidade. Saudades do nacionalismo, da fronteira, da ditadura, da guerra, da PIDE, de Caxias e do Tarrafal, das cheias do Tejo e do Douro, da tuberculose infantil, das mulheres mortas no parto, dos soldados com madrinhas de guerra, da guerra com padrinhos políticos, dos caramelos espanhóis, do telefone e da televisão como privilégio, do serviço militar obrigatório, do queres fiado toma, dos denunciantes e informadores e, claro, dessa relíquia estimada que é um aparelho de segurança.Eu não ponho flores neste cemitério.Nesse Portugal toda a gente era pobre com exceção de uma ínfima parte da população, os ricos. No meio havia meia dúzia de burgueses esclarecidos, exilados ou educados no estrangeiro, alguns com apelidos que os protegiam, e havia uma classe indistinta constituída por remediados. Uma pequena burguesia sem poder aquisitivo nem filiação ideológica a rasar o que hoje chamamos linha de pobreza. Neste filme a preto e branco, pintado de cinzento para dar cor, podia observar-se o mundo português continental a partir de uma rua. O resto do mundo não existia, estávamos orgulhosamente sós. Numa rua de cidade havia uma mercearia e uma taberna. Às vezes, uma carvoaria ou uma capelista. A mercearia vendia açúcar e farinha fiados. E o bacalhau. Os clientes pagavam os géneros a prestações e quando recebiam o ordenado. Bifes, peixe fino e fruta eram um luxo.
A fruta vinha da província, onde camponeses de pouca terra praticavam uma agricultura de subsistência e matavam um porco uma vez por ano. Batatas, peras, maçãs, figos na estação, uvas na vindima, ameixas e de vez em quando uns preciosos pêssegos.
As frutas tropicais só existiam nas mercearias de luxo da Baixa. O ananás vinha dos Açores no Natal e era partido em fatias fininhas • para render e encharcado em açúcar e vinho do Porto para render mais. Como não havia educação alimentar e a maioria do povo era analfabeta ou semianalfabeta, comia-se açúcar por tudo e por nada e, nas aldeias, para sossegar as crianças que choravam, dava-se uma chucha embebida em açúcar e vinho. A criança crescia com uma bola de trapos por brinquedo, e com dentes cariados e meia anã por falta de proteínas e de vitaminas. Tinha grande probabilidade de morrer na infância, de uma doença sem vacina ou de um acidente por ignorância e falta de vigilância, como beber lixívia. As mães contavam os filhos vivos e os mortos era normal. Tive dez e morreram-me cinco. A altura média do homem lusitano andava pelo metro e sessenta nos dias bons. Havia raquitismo e poliomielite e o povo morria cedo e sem assistência médica. Na aldeia, um João Semana fazia o favor de ver os doentes pobres sem cobrar, por bom coração. Amortalhado a negro, o povo era bruto e brutal. Os homens embebedavam-se com facilidade e batiam nas mulheres, as mulheres não tinham direitos e vingavam-se com crimes que apareciam nos jornais com o título ‘Mulher Mata Marido com Veneno de Ratos’. A violação era comum, dentro e fora do casamento, o patrão tinha direito de pernada, e no campo, tão idealizado, pais e tios ou irmãos mais velhos violavam as filhas, sobrinhas e irmãs. Era assim como um direito constitucional. Havia filhos bastardos com pais anónimos e mães abandonadas que se convertiam em putas. As filhas excedentárias eram mandadas servir nas cidades. Os filhos estudiosos eram mandados para o seminário. Este sistema de escravatura implicava o apartheid. Os criados nunca dirigiam a palavra aos senhores e viviam pelas traseiras. O trabalho infantil era quase obrigatório porque não havia escolaridade obrigatória. As mulheres não frequentavam a universidade e eram entregues pelos pais aos novos proprietários, os maridos. Não podiam ter passaporte nem sair do país sem autorização do homem. A grande viagem do mancebo era para África, nos paquetes da guerra colonial. Aí combatiam por um império desconhecido. A grande viagem da família remediada ao estrangeiro era a Badajoz, a comprar caramelos e castanholas. A fronteira demorava horas a ser cruzada, era preciso desdobrar um milhão de autorizações, era-se maltratado pelos guardas e o suborno era prática comum.
De vez em quando, um grande carro passava, de um potentado veloz que não parecia sujeitar se à burocracia do regime que instituíra uma teoria da exceção para os seus acólitos. O suborno e a cunha dominavam o mercado laborai, onde não vigorava a concorrência e onde o corporativismo e o capitalismo rentista imperavam. Salazar dispensava favores a quem o servia. Não havia liberdade de expressão e o lápis da censura aplicava-se a riscar escritores, jornalistas, artistas e afins. Os devaneios políticos eram punidos com perseguição e prisão. Havia presos políticos, exilados e clandestinos. O serviço militar era obrigatório para todos os rapazes e se saíssem de Portugal depois dos quinze anos aqui teriam de voltar para apanhar o barco da soldadesca. A fé era a única coisa que o povo tinha e se lhe tirassem a religião tinha nada. Deus era a esperança numa vida melhor. Depois da morte, evidentemente. ”
Clara Ferreira Alves in “A Pluma Caprichosa”, jornal Expresso
https://m.facebook.com/story.php?story_fbid=10215960083888463&id=1038434185

já poluiu o suficiente hoje, veja as suas metas aqui

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Nasti de plastic Bizkaia

8 July

El fotógrafo Antoine Repesse ha acumulado basura durante 4 años para mostrar las consecuencias de nuestro estilo de vida diario y sobreconsumo.
El resultado hablo por si solo.
#nastideplasticbizkaia

há 31 anos raid Macau-Lisboa

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Pilotos do raid terrestre Macau-Lisboa relembram a aventura passados 31 anos.

Foi há 31 anos que sete homens se fizeram à estrada com o objectivo de fazer o raid Macau-Lisboa.

A viagem de jipe incluía atravessar, em 1988, uma China fechada ao mundo, sem telemóveis ou GPS, passando por zonas complicadas como o deserto de Gobi, Himalaias, Paquistão e Irão.

O objectivo foi lembrar a presença portuguesa em Macau e o regresso do território à China, que aconteceria 11 anos depois.

A ideia começou a germinar na cabeça de João Severino, à época jornalista da TDM e ex-director do Macau Hoje.

Amante da velocidade, Severino sentia-se preso no pequeno território de Macau que não o deixava acelerar.

Pensou arranjar jipes, atravessar pelas Portas do Cerco e desbravar caminho.

Uma ideia que parecia impossível.

Um dia, no Clube Militar, a coincidência uniu um conjunto de companheiros que partilhavam a mesma vontade.

Mexeram-se cordelinhos para angariar apoios públicos e privados, onde se destaca o do empresário Ng Fok e do ex-governador Carlos Melancia, que agilizou muitas questões de ordem prática.

À altura, corria o ano de 1988, só João Severino tinha experiência em automobilismo, tendo chegado a competir no Grande Prémio de Macau.

Mas a falta de experiência ao volante não impediu que outros seis companheiros, João Queiroga, Jorge Barra, Vitalino Carvalho, José Babaroca, João Santos e Mok Wa Hoi lhe fizessem companhia naquele que foi o primeiro raid terrestre Macau-Lisboa.

Em 50 dias percorrerem 22 mil quilómetros, com deserto, neve e conflitos pelo caminho.

A viagem terminou na Torre de Belém no dia 25 de Abril de 1988, depois de ter partido das Ruínas de São Paulo, em Macau.

“Quando chegámos a Lisboa, Mário Soares (à época Presidente da República) ainda esperou por nós, porque saíamos da capital às 5h da manhã e quase não podíamos andar. Custou-nos mais Lisboa-Covilhã do que Macau Lisboa, porque a chuva era tanta e intensa que não víamos um metro à frente, com uma estrada horrível. Depois, Mário Soares anunciou que seríamos condecorados e fomos condecorados com ordem de mérito desportivo.”

Anos depois, o primeiro raid terrestre Macau-Lisboa foi a aventura de uma vida para muitos, e, apesar das inúmeras peripécias, os jipes UMM chegaram intactos ao seu destino.

“Naquele tempo, só para arranjar vistos e autorizações… o Irão estava em guerra com o Iraque, o Paquistão com o Afeganistão, e íamos atravessar a China pela primeira vez, quando o país era muito fechado. Não havia hotéis, telemóveis, helicópteros de apoio. Foi uma expedição que hoje, passados tantos anos, é considerada única no mundo”, recorda João Severino.

Na China, todo o trajecto ficou definido pelas autoridades, como recorda João Queiroga, outro dos pilotos, à época presidente do Instituto do Desporto.

“Durante ano e meio, a China negociou connosco porque era a primeira vez que passavam no país viaturas estrangeiras conduzidas por estrangeiros. A própria rota na China teve de ser negociada. Depois perceberam quem éramos e qual o nosso objectivo e, pela primeira vez, a China autorizou a nossa passagem por um trajecto que eles decidiram.”

Isso implicou proibições de passagem.

“Não podíamos passar pela trajectória até à URSS e também não podíamos ir muito para sul, porque havia ali problemas com a fronteira. Assim, seguimos pelos Himalaias, na única estrada de ligação por terra entre a China e o Paquistão.”

DESERTO E NEVE

João Queiroga, hoje a residir em Portugal, foi um dos nomes mais envolvidos na organização da viagem, e fala do enorme simbolismo da odisseia de estrada.

“Em 1986 houve uns aviadores que tentaram fazer a ligação entre Macau e Lisboa por monomotor, mas tiveram tanto azar.

Quando estavam quase no fim da jornada, o avião aterrou num campo de arroz em Cantão.”

Queiroga foi uma das pessoas que se encontrou com Jorge Barra e João Severino naquele dia decisivo no Clube Militar.

“A viagem tinha uma simbologia muito grande. Queríamos fazer a ligação entre as Ruínas (de São Paulo) e a Torre (de Belém), e havia o simbolismo da presença lusa em Macau. Também fazíamos a representação da comunidade portuguesa em Macau nas celebrações do 10 de Junho em Lisboa.”

Um ano antes, em 1987, havia sido assinada a Declaração Conjunta que determinava que Macau seria território chinês em 1999.

Severino assegura que “o raid foi muito difícil”, e que pelo caminho viram a morte “mais de cinco vezes”.

“Há uma altura em que chegámos ao deserto do Gobi (na China), com 70 graus de calor e 75 graus dentro do jipe. O Gobi tinha quase três mil quilómetros e a respiração começava a faltar, porque não tínhamos ar condicionado.”

Depois, nos Himalaias, o problema foi o oposto.

“A neve é uma coisa horrível, e chegámos a ter três metros de altura de neve acima do jipe. Não sabíamos onde estava a estrada, e um de nós ia à frente a bater com o ferro para ver onde estava duro. Porque caindo para o precipício, e eram precipícios de 500 metros de altura ou mais, morríamos logo”, acrescentou Severino.

Vitalino Carvalho, médico urologista reformado, é o único dos pilotos que ainda reside em Macau.

Ao HM, recorda a passagem pelo “Khunjerav Pass, a 4,693 metros na fronteira entre a China e o Paquistão”, depois de terem deixado o último posto fronteiriço chinês.

“Durante horas, sozinhos na imensidão branca da neve que tombava, seguido pela descida da montanha até ao vale do primeiro posto paquistanês, por estradas ladeadas por precipícios profundos, onde só cabia um carro.”

Os pilotos partiram, mas demoraram a dar notícias a quem tinha ficado à sua espera.

“Só ao fim de dez dias é que conseguimos um telefone para ligar para Macau e dizer que estava tudo bem connosco. As famílias ficaram contentes, foi uma festa na rádio”, recorda Severino.

O IRÃO E OS BLUE JEANS

Chegados ao Irão, os sete pilotos passaram por uma série de peripécias.

As fronteiras constituíam quase sempre um problema.

“Era tudo anti-americano”, contou Severino.

“Se apanhassem um maço de Marlboro levávamos um tiro, porque era americano. Faziam-nos perguntas malucas na fronteira. Até que, a certa altura, eu pergunto a uma guarda, mulher, se tinha estado nos EUA, porque vi os jeans dela da Levis. Aí, deixaram-nos passar.”

No país dos aiatolas, os três jipes eram mandados parar a cada 100 quilómetros por “miúdos drogados, cheios de cocaína”.

Mas foi aí que se depararam com outra curiosidade.

“Tínhamos de beijar a fotografia do aiatola. Perdi a cabeça quando vi um dos miúdos com uma arma que eu conhecia, e que me tinha espezinhado o passaporte. Foram os meus colegas que me seguraram. Depois percebi que Portugal, na língua do Irão, é laranja, e aí disseram-nos que espezinhavam os passaportes gozando com isso, como se fosse uma bola. E ainda por cima, os nossos fatos eram laranja. Riam, riam.”

A passagem pelo país implicou ainda a dormida numa prisão.

“Atravessámos o Irão com uma grande dificuldade. Dormimos no átrio de uma prisão, porque era o sítio mais seguro. As autoridades mandaram-nos para lá e dormimos num anexo. Depois guiámos mais 1200 quilómetros quase, eu sozinho a conduzir, já não via nada, porque tinha os meus companheiros doentes.”

A condição feminina no Irão foi uma novidade para os pilotos.

“Recordo o facto de nos depararmos com todas as mulheres do Aiatola Khomeini vestidas com o hijab e a roupa larga a cobrir o corpo de forma a não deixar mostrar as curvas femininas”, frisou Vitalino Carvalho.

Este recorda também “o artifício feminino de na recepção do Consulado de Portugal, irem em linha directa para a casa de banho, a fim de vestirem e calçarem o último grito da moda de Paris”.

Às portas da Europa, a Turquia também constituiu um problema.

“Foi muito mau porque tínhamos de parar a toda a hora. Os polícias só queriam tabaco americano. Inventavam coisas para pararmos, íamos para a prisão, depois dávamos tabaco e seguíamos”, contou Severino.

A partir daí, as dificuldades foram diminuindo.

“A Bulgária foi uma surpresa, um país muito bonito. Jugoslávia fantástico, já aí não queriam nada com a URSS. Era um país diferente, com as mulheres mais bonitas do mundo. Em Itália descansámos porque vínhamos muito cansados.

Ainda hoje tenho problemas de costas por causa disso, porque no deserto não se pode andar devagar, senão o jipe atola. O jipe dava 115 quilómetros por hora, como se fossemos no ar”, referiu o antigo jornalista.

MARREIROS RELATAVA TUDO

A viagem contou ainda com o apoio dos irmãos Marreiros.

Se Vítor, designer gráfico, tratou da decoração dos jipes UMM, Carlos Marreiros, arquitecto, esteve quase a embarcar na viagem.

Não o fez por motivos pessoais, mas ajudou nos relatos para os media e, mais tarde, ajudou na edição do livro.

“Foram quase dois meses, aparecia sempre na televisão e nos jornais também. Apelidaram-me de raidista platónico, porque estava no ar, mas não sentia as dificuldades da viagem”, adiantou ao HM Carlos Marreiros.

Por telefone, os pilotos iam relatando tudo ao arquitecto.

“Fui tomando notas do que eles me diziam e do que iam fazendo. Diziam-me que tinham encontrado minhotas em terras do deserto do Gobi, depois contactaram com guerrilheiros e houve um encontro engraçado no Irão. Eles conheciam Portugal como orange, a terra da laranja, e os citrinos tem origem nos países árabes. E quando souberam que os jipes eram portugueses foram muito bem tratados”, aponta, numa referência à história de João Severino.

O livro acabaria por ser publicado pelo Instituto Cultural (IC).

“Fui apenas o braço-direito, porque as histórias são deles. Bons tempos, tinha tempo para conviver.”

Décadas depois, e no ano em que Macau celebra 20 anos de transferência de soberania para a China, Vitalino Carvalho fala de um enorme companheirismo que vingou ao longo de toda a viagem.

Carlos Marreiros assume que, se fosse feita hoje, todos os olhos do mundo estariam postos em Macau.

“Não tínhamos nenhum propósito comercial, queríamos apenas conviver, fizemos tudo pelo gosto pela aventura e pelo desenrascanço. Mas havia um propósito cultural. Estávamos longe de pensar que os jipes UMM tivessem a performance que tiveram, sem avarias de maior. Se acontecesse num país estrangeiro seria muito noticiado e seria objecto de exploração de marketing. Hoje, com as redes sociais, teria mais impacto.”

Vitalino Carvalho não duvida de que hoje voltaria a fazer o mesmo.

“Quando partir o próximo carro, de preferência um UMM, mesmo velhinho e em segunda mão, dá-se um jeito e lá vamos outra vez.”

Andreia Sofia Silva.
Jornal Hoje Macau, 8 de Agosto de 2019.

https://hojemacau.com.mo/…/pilotos-do-raid-terrestre-macau…/

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