Arquivo mensal: Junho 2019

O “Aparecimento” de Santa Maria

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Ricardo Batista shared a post to the group: Info: Santa Maria (Açores).5 hrs · Hoje há 73 anos | 2 de Junho de 1946: transferência da “Central Atlantic Wing, North Atlantic Division, Air Transport Command, Headquarters, Santa Maria Island, Azores” para jurisdição portuguesa.Nesta data em que passam 73 anos após a transferência da Base Aérea Americana de Santa Maria para jurisdição Portuguesa, neste ano em que se iniciam as comemorações o 75º aniversário do início da negociação e construção desta infraestrutura que viria a tornar-se o Aeroporto Internacional de Santa Maria, partilhamos o artigo “O Aparecimento de Santa Maria”, da autoria de António Monteiro, publicado no dossier “Asas sobre o Atlântico” da Atlântida – Revista de Cultura | 2018.Associação LPAZ5 hrs · O “Aparecimento” de Santa Mariapor António Sousa MonteiroPublicado no dossiê temático “Asas sobre o Atlântico” da Atlântida – Revista de Cultura | 2018 | Instituto Açoriano de CulturaSanta Maria é a mais antiga ilha do Arquipélago dos Açores. É também aceite como a primeira ilha açoriana a ser achada, por Diogo de Silves, e descoberta, por Gonçalo Velho Cabral[1]. Terão havido outras ilhas-erupções anteriores, entretanto submer…See more

SOU ANTISSOCIAL OU ALÉRGICO a inelutável tradição do ruído das festas e as roqueiras (o foguetório

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escrito em 2017

CRÓNICA 177. SOU ANTISSOCIAL OU ALÉRGICO AO RUÍDO A QUE CHAMA MÚSICA? 30/7/17

A jornalista Carmen Ventura queixava-se hoje na blogosfera:

Porque não fazem os festivais no meio de um pasto e deixam dormir quem está cansado de trabalhar???

À distância que estou das ‘poças ‘ e o barulho é medonho.

Falta de respeito.

Raios partam a quem autoriza uma merda destas…

Escrevi há anos em ChrónicAçores: uma circum-navegação vol. 2 (ed. Calendário de Letras):

A festa em honra da padroeira é celebrada no último domingo de agosto, com procissão e arraial tendo já a duração de uma semana em festejos.

Nos últimos anos, a afluência de emigrantes e visitantes tem aumentado substancialmente.

Em dias de festa, vive-se um outro espírito na freguesia, as pessoas empenham-se em embelezar suas casas bem como as ruas.

Nesse domingo de festa, as ruas por onde passa a procissão são decoradas com magníficos tapetes de flores…

Aliás, desde as Festas do Divino que as festas não pararam.

Todas as noites há foguetes e barulho, aqui na aldeia, até altas horas.

Num destes dias já eram duas da manhã e os foguetes ainda estrelejavam, contrariamente às normas europeias e portuguesas relativamente à poluição sonora…

Havia gente nova há um ano à espera deste evento.

Isto permitia abrir todas as válvulas reprimidas.

Libertava a libido e os sonhos reprimidos de doze meses ilhéus, nesta prisão sem grades, que todas ilhas costumam ser.

Era a maior festa da aldeia do ano.

As diversões para os novos são poucas, sendo o opérculo de escape anual dos locais.

Velhos e novos, crianças e adolescentes, todos dançavam, pulavam e bebiam.

Bebiam e bebiam e tornavam a beber como se não houvera amanhã.

Se calhar não haveria mesmo.

O som da música enchia uma noite amena.

… há anos que me queixo do mesmo e uma vez ao ano tento fugir das festas, primeiro punham altifalantes na rua , depois eram as “discotecas” improvisadas 3 na minha rua e rua paralela, com o som bass de uma delas a ir até às 3 ou 4 da manhã…estando calor era um horror mesmo com vidros duplos o som entrava e a casa tremia…nem polícia, nem comissão fabriqueira, nada..depois decidi emigrar todos os anos na semana das festas, mas nem sempre o posso fazer (este ano vai ser um deles, e já sei que durante uma semana vão tentar a tortura sonora que faria inveja aos métodos da PIDE.

Tanto a minha rua como a paralela onde vivia o saudoso Manuel Sá Couto são residenciais e não devíamos ter de ouvir a trampa de música e de barulho que debitam…é a época do ano em que tenho mais saudade da minha civilizada Austrália….

Acreditem que até já adormeci com auscultadores… e dizem-me que sou um desmancha-prazeres e nada há a fazer… uma vez ao ano sou mesmo antissocial.

Num dos anos a música da festa anual entrava janelas adentro tonitruante, com altifalantes de dez em dez metros a debitarem pimba desde as oito da manhã.

Estava muito calor nesse ano e a minha mulher ia tomar uma atitude drástica, mas, felizmente, apareceu p vizinho saudoso Manuel Sá Couto que ao saber deste predicamento, subiu a um escadote e desligou os altifalantes que nos invadiam a privacidade e a sanidade.

A partir de então e já vão mais de dez anos, decidimos tirar férias na semana das festas.

Foi assim que acabamos por conhecer as ilhas todas, por mais de uma vez.

Chegada a última semana de agosto, para espanto e incompreensão dos locais zarpamos daqui para fora por uns dias.

Infelizmente, a minha mulher todos os anos tem de se apresentar na escola dia 1 de setembro, e nalguns casos como a festa coincide com o último domingo de agosto ainda temos de ser sonoramente violentados mais uns dias…

Respeito o direito dos locais preservarem esta tradição ancestral para a qual poupam todo o ano, seguindo a tradição de que era nestas festas da paróquia que se apalavravam os casórios das filhas espigadotas.

Ainda hoje, as jovens, de tenra adolescência, andam todas vestidinhas, penteadinhas, pintadinhas a passear rua abaixo, rua acima, ou no largo do coreto da igreja, a mostrarem-se como se estivessem numa feira de gado, desculpem a comparação.

Claro que os casamentos já não são apalavrados como dantes, mas esses tiques permanecem imutáveis, gravados na herança genética.

De notar que aqui na Lomba da Maia a consanguinidade é elevadíssima, muito mais do que na vizinha Maia…

E mais uma vez, a tradição manteve-se com os seus ademanes, mas a razão de ser dela perdeu-se no progresso que também das modinhas de música tradicional para a música pimba e música brasileira durante o dia enquanto à noite é o bum bum bum de um som “bass” bem forte, que faz tremer as paredes, acelera o ritmo cardíaco e faz perder a paciência a um santo que não sou.

Além disso, como se tal não bastasse, não nesta festa, mas em todas as ocasiões (e elas parecem ser semanais) há as roqueiras (os tradicionais foguetes ruidosos) que impedem qualquer descanso, assustando animais e humanos a qualquer hora do dia e da noite.

Costumo sempre dizer que se eu mandasse metia-lhes as roqueiras num sítio que não digo para nunca mais acenderem nenhum foguete…, mas isso são desabafos causados pela impotência de lidar com esta calamidade das festas, do ruído e da tradição profundamente adulterada que nem sequer serve para arranjar um bom casamento…

e como foi escrito:

O casamento é o triunfo da imaginação sobre a inteligência.” Óscar Wilde [1854-1890]

Ou, como afirmava Nietzsche, “festejar é poder dizer: sejam bem-vindas todas as coisas”.

Pela festa o ser humano rompe o ritmo monótono do quotidiano.

Façam uma festa, mas mais silenciosamente.

 

 

e a lei diz especificamente: o ruido e as festas Pages from 2019-06-04-2

será isto a arquitetura inclusiva???

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Helena Margarida Pimentel shared a post.

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Morreu a escritora Agustina Bessa-Luís – Observador

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Um dos nomes maiores da literatura portuguesa contemporânea, Agustina Bessa-Luís tinha 96 anos.

Source: Morreu a escritora Agustina Bessa-Luís – Observador

 

 

Agustina tem uma biografia que a família não queria

Agustina Bessa-Luís é a escritora mais enigmática, quem o diz é Isabel Rio Novo, que lança hoje a maior biografia sobre a autora de A Sibila. Onde mostra uma mulher muito mais completa, nos últimos anos “ocultada pela família”.

O que traz de novo a primeira grande biografia sobre a escritora Agustina Bessa-Luís? A resposta chega esta sexta-feira às livrarias e soma 500 páginas. 400 com uma narrativa de autoria de Isabel Rio Novo, ficcionista e doutorada em Literatura Comparada, que conta a vida da autora e mais 100 páginas de notas, com pistas para quem quiser saber mais sobre as fontes – é quase um segundo livro.

A autora da primeira das seis biografias anunciadas pela editora Contraponto sobre grandes figuras da cultura portuguesa responde à questão das novidades que existem nesta biografia com uma justificação e quatro exemplos: “Agustina tem a vantagem de as etapas principais da sua vida serem conhecidas.” O que não impede de dar ao leitor quatro grandes desenvolvimentos sobre o que classifica como “etapas” e fazer redescobrir a biografada.

Primeira: “Sabemos que conheceu o marido através de um anúncio, mas é muito diferente encontrar o anúncio, perceber o contexto e as implicações que teriam na época e na circunstância.”

Segunda: “O período de início da vida literária e a dificuldade em afirmar-se. Sabia-se dos pedidos de auxílio a escritores consagrados, como Aquilino Ribeiro ou Ferreira de Castro, para que escrevessem textos favoráveis à obra. Ela também o fez, mas o processo não era conhecido desta forma, mesmo que nunca tivesse escondido que enviara a sua novela de estreia aos três grandes das letras o que agora se revela mais.”

Terceira: “As particularidades do tempo da depressão em Esposende, por volta dos 40 anos e da morte do pai, que foi uma fase tranquila e propícia à introspeção.”

Quarta: “Um episódio que ressoa de uma forma completamente diferente nesta biografia é o duelo com o crítico de O Primeiro de Janeiro, Jaime Brasil. Muito mais tarde ela referir-se-ia a esta situação desvalorizando-o, mas ao pesquisar com bastante rigor ficou muito claro que é um episódio mais doloroso e que a marcou. Até poderia tê-la feito desconfiar do seu talento e posto cobro a uma carreira literária. Jaime Brasil criticou implacavelmente o seu segundo romance – que comparado com obras-primas seguintes eram relativamente fraco e ela reconheceu-o -, mas a questão é que o crítico, que era consagrado, não o censurou por isso mas por aquilo que considerava ser a imoralidade e a indecência do romance. É verdade que o livro contém cenas de sexo, o que é atípico na ficção de Agustina, mas o crítico chegou ao ponto de afirmar que uma senhora nunca escreveria aquilo e até comparou em modos muitos violentos a autora a uma cabra com cio. Usando uma linguagem sexista que hoje seria qualificada como de assédio, enquanto a uma mulher nos anos 50 era complicado responder a um ataque deste tipo.”

A Agustina que os portugueses conhecem melhor tornou-se bastante diferente destas quatro “etapas” e a biografia mostra-o bem. Isabel Rio Novo refere que o seu trabalho “traduz uma vontade editorial comunicada a todos os seis biógrafos, a de se pretender biografias rigorosas extensas e minuciosas”, que serão diferentes entre si, diz, pois “cada um tem o seu estilo próprio e é de esperar que o reflitam no produto”.

E é isso que Isabel Rio Novo faz, mesmo que nem sempre o leitor de biografias – inglesas, por exemplo – esteja à espera de ler uma espécie de diálogo entre biógrafo e biografado: “Não vou tão longe…”, “Pelo que depreendi da leitura da sua correspondência…”, “Descobri Agustina sem defesa…” Não é um problema, o leitor acostuma-se e a narrativa entranha-se e obedece ao gosto que a editora espera ter como público desta coleção.

Aliás, a autora privou com Agustina por duas vezes, em 2003 e 2004: “Tive o privilégio de a conhecer no âmbito de trabalhos universitários ao fazer parte de uma equipa que a entrevistou. Eu era bastante mais jovem e reservada, senti diante dela o fascínio normal de quem tem uma obra gigante e guardo preciosamente essa memória, que foi ao mesmo tempo uma graça. Não vou dizer que a conheci intimamente, mas naqueles momentos percebi a sua inteligência, ouvi a sua gargalhada interminável que contagiava e notei o seu olhar arguto.”

Em poucas palavras, Isabel Rio Novo faz um trocadilho: “Era uma presença imponente apesar da sua [pequena] estatura física.” Nota-se a admiração da biógrafa perante o objeto de estudo, mas não se pode dizer que Bessa-Luís a tenha assustado. Talvez, haja um respeito perante a dimensão da autora, mas isso é o que se exige aos biógrafos também. Quando se questiona se não se sentiu à vontade para desvendar certos episódios, responde: “Algumas vezes sim, que teria de estabelecer fronteiras em relação ao que estava a fazer. Era uma biografia de Agustina, mas também de quem gravitava à sua volta. É como tudo na vida, parte-se de uma decisão inicial, e de outras que se desdobram, porque esse dilema vai surgir conforme o juízo nos dita. Provavelmente, cometeremos erros às vezes.”

Entre os episódios que marcam a leitura da biografia existe um muito forte, o de quando conta que, devido ao estado de saúde em que a escritora se encontrava, não se apercebeu da morte do marido. “Está claro no livro que me baseio nos testemunhos, nem sempre esclarecedores, mas é verdade que nesta fase em que vive tudo à sua volta está cheio de mistérios e de penumbras. Tristes, para quem a conheceu e sabia que o seu grande desejo era escrever até ao último dia da sua vida”, garante.

Porquê escolher Agustina para biografar? “Quando conversaram comigo em 2016, foram apresentados dois nomes. O primeiro agradou-me, mas quando foi pronunciado o nome de Agustina confesso que não tive hesitação. Estava consciente da responsabilidade da tarefa e queria escrever sobre a escritora. Ficara assoberbada com A Sibila quando a lera na escola e tinha um conhecimento prévio da restante obra, sobre a qual fiz vários trabalhos académicos e participei num dicionário de literatura.”

Desde logo, o título é inesperado: O Poço e a Estrada. A autora explica: “Nasce da leitura do seu romance O Manto, onde o personagem vislumbra o seu futuro ao olhar para dentro de um poço. Era uma metáfora interessante para a aventura da escrita precoce de Agustina, que começa a ler e escrever muito cedo e, também cedo na adolescência, inicia a escrita literária.” Para que saiba ao que se vai, o subtítulo é claro: Biografia de Agustina Bessa-Luís, sobre uma fotografia da escritora na capa, numa pose e idade que a identifica logo. O volume contém um índice onomástico (com algumas ausências) e mereceria uma cronologia da vida de Agustina.

Como é escrever uma biografia sobre alguém que existindo já não existe?

É complicado pois Agustina é uma personagem enigmática e, não podendo dizer que desvendei o enigma dela por completo, a escritora defendeu-se porque tinha perfeita consciência de que um dia iria ser biografada. Contar-se a sua história um dia fez com que adotasse uma posição ambivalente: ora defendia que não queria que se indagasse a seu respeito, ora afirmava não demonstrar interesse na expressão autobiográfica, ora começava projetos desse cariz, sobretudo a partir da viragem do século. A intenção de alguém a biografar parece uma provocação no bom sentido agustiniano, estendida ao biógrafo que promete mas a que também se nega. O enigma de Agustina, uma pessoa que está ainda viva, mesmo que retirada do olhar público, até mesmo ocultada por decisão da família – que respeito – torna-a ainda mais enigmática e também fascinante. Se pretendia construir uma biografia pautada pelo respeito e por um certo pudor, a sua situação era mais um bom motivo para o fazer.

Usa a palavra ocultada. A família não a ajudou na biografia?

Ocultada no sentido de resguardo, decisão que compreendo. A ocultação acontece até a amigos próximos da escritora. Quanto à colaboração, havia no início essa perspetiva por parte da família, aliás o projeto começou por ser saudado com muito agrado e entusiasmo, depois, por questões editoriais, a posição da família inverteu-se e não houve qualquer tipo de apoio à pesquisa e à escrita do trabalho.

A família não queria uma biografia?

A informação que tenho é que está a ser preparada outra biografia, mas é óbvio que uma figura desta dimensão deve ser biografada e é desejável – como grande admiradora e leitora compulsiva da sua obra desde a adolescência – não haver uma ou duas, mas várias. E lerei todas com muito interesse.

A biografia recolhe vários depoimentos. Foi difícil encontrar as fontes?

Comecei por recolher o máximo de peças jornalísticas – encontrei cerca de uma centena pois ela concedeu muitas entrevistas – e a partir dessas fontes de investigação fui elaborando um plano. Não consegui falar com muitos dos que estavam nesse projeto inicial porque algumas prestaram-se a colaborar mas vieram a manifestar indisponibilidade, outras esquivaram-se, no entanto foram muitas as pessoas que aceitaram. Destas, houve sugestões para outros entrevistados e documentação que desconhecia, e pessoas que me franquearam os seus arquivos privados, disponibilizaram correspondência e espólios – as cartas foram muito reveladoras. Quanto à obra, não queria escrever uma biografia a partir das referências autobiográficas nos livros; não podia ignorar o que todos sabemos existir, que deixou na ficção muitas marcas da sua história. Punha obsessivamente em cena as suas origens e a geografia humana dos familiares, o que era uma vantagem porque conhecia a obra bem e como a minha memória literária é grande, lembrava-me, por exemplo, de pequenos detalhes nos romances.

“A vida de Agustina não cabe nos limites cronológicos do seu nascimento e da sua morte (…). Tem de indagar-se no futuro da sua obra”, escreve à página 399. Ainda ficou muito por contar?

Sou suspeita para responder a isso. É óbvio que uma biografia não é a reconstituição factual dos episódios de uma vida, nem a sua apresentação quase cronológica através de uma narrativa interessante que, tratando-se de Agustina, será sempre empolgante. Uma biografia, como todas as narrativas, é o que é graças ao que está narrado e em virtude do narrador, do estilo ou até das suas limitações. Estou certo que Agustina continuará a ser sempre um enigma seja quantas biografias forem publicadas.

Acusa-a de construir um “muro de distância com todos”. Porque o faz?

A explicação, se é que existe, vai sendo dada nos capítulos. Penso que ela própria sublinhava que o principal na sua vida era escrever, mais do que um objetivo era uma missão para a qual se sentia talhada desde a infância, vocação confirmada na adolescência e reiterada depois do casamento. Uma das revelações da biografia é a figura do marido, Alberto Luís, que conheci, e de quem todos sabemos a importância que teve na criação literária de Agustina – adiantando trabalho de pesquisa, datilografando numa fase inicial os manuscritos ou ajudar na revisão. Essa pesquisa revela que não teria sido a escritora que foi se não tivesse a sorte de ter casado com alguém que no contexto da época, anos 1940, compreendeu a genialidade da mulher e criou condições para que pudesse escrever. Não digo que Agustina tenha descurado a vida familiar, as suas obrigações domésticas e algum convívio, mas para ela viver era para escrever.

Até que ponto Agustina foi respeitada pelos colegas?

Havia de tudo e não foi diferente dos outros escritores: teve simpatias e antipatias. Creio que muita gente teve tendência para menorizar a sua obra literária conotando-a com um certa vertente regionalista na qual não se inscrevia completamente, se é que cabia em algum rótulo. Ou a questão de alguma ligação ao anterior regime, mas fica claro na biografia que não favorecia nem perfilhava esses ideais. Também não foi uma intelectual que se distinguisse pelo combate aberto ao regime. Os escritores que eram abertamente hostis ao regime, tinham tendência em ver nessa sua posição uma espécie de colagem ao regime vigente. Pode dizer-se que teve amizades sinceras no meio artístico, como a de Sophia de Mello Breyner, apesar das pequenas picardias entre as duas foram amigas sinceras, ou da pintora Vieira da Silva.

Receou enfrentar Agustina quando pensou no projeto ou achou que a iria dominar?

Percebo o sentido dessas metáforas bélicas, mas nunca vi a biografia como um combate, antes uma conversa à distância. Se voltasse aos anos em que a conheci pessoalmente, desta vez evitaria a minha timidez e em vez de ficar nas cadeiras mais recuadas iria ter o atrevimento de falar com ela.

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O Poço e a Estrada – Biografia de Agustina Bessa-Luís

Isabel Rio Novo

Editora Contraponto, 503 páginas