Vai para 30 anos que vou completando e actualizando a minha lista de autores (a que já chamam de “Victor´s list”) que, em diversos registos, escreveram / escrevem sobre os Açores na perspectiva que explico no texto, em anexo.
Por conseguinte, tomo a liberdade de vos enviar a referida lista, esperando da vossa parte sugestões e contributos.
Agradecido, abraço-vos fraternalmente
Victor Rui Dores
P. S. Lembro-vos que a referida lista não serve propósitos estatísticos. É apenas a minha maneira de calar aqueles que (ainda) desconfiam da existência, nos Açores, de um corpo literário e de uma ensaística de primeiríssima qualidade. São muitos nomes? Claro que são e não estão cá todos… Mas é pela quantidade que se chega à qualidade… Com 20 anos para viver, eu já sou estou a trabalhar para memória futura… É impressionante o número de novos autores que despontaram nos últimos anos!
Tanta gente a escrever Açores!
(294 autores)
Há um significativo número de escritores açorianos, cuja maturidade literária só veio a ser adquirida com o advento do 25 de Abril de 1974.
Exceptuando (por questões de índole etária) Armando Cortes-Rodrigues, Vitorino Nemésio, Natália Correia, Dinis da Luz, Francisco Coelho Maduro Dias, Urbano Mendonça Dias, Eduíno Borges Garcia, Amílcar Goulart, Pe. Coelho de Sousa, Manuel Barbosa, Tomás da Rosa, Pedro da Silveira, Dias de Melo, José de Almeida Pavão, João Afonso, Otília Fraião, Luísa de Mesquita, Cunha de Oliveira (Silva Grelo) e Eduíno de Jesus, todos os restantes escritores e poetas açorianos (cujas escritas têm a sua génese à volta do suplementarismo cultural de jornais de Ponta Delgada, Angra do Heroísmo e Horta) só produziram (ou estão em vias de produzir) as suas obras maiores após a referida data. Exemplos disso mesmo são:
I
Na poesia e ficção narrativa
(174 nomes)
Adelaide Baptista, Álamo Oliveira, Alexandre Borges, Almeida Firmino, Almeida Naia, Ana Ferraz da Rosa, Ana Paula Martins Goulart, Ângela Almeida, António Bulcão, Artur Goulart, Artur Veríssimo, Avelina da Silveira, Borges Martins, Carlos Alberto Machado, Carlos Bessa, Carlos Faria, Carlos Manuel Arruda, Carlos Tomé, Carlos Tomé, Carlos Wallenstein, Carolina Matos, Cisaltina Martins, Conceição Maciel, Cristóvão de Aguiar, Daniel Gonçalves, Daniel de Sá, Diogo Ourique, Eduardo Bettencourt Pinto, Eduardo Ferraz da Rosa, Eduardo Jorge Brum, Emanuel Félix, Emanuel Jorge Botelho, Fernanda Mendes, Fernando Aires, Fernando Lima, Fernando Melo, Fraga da Silva, Gabriela Silva, Heitor Aghá Silva, Hélder Medeiros, Humberta Araújo, Humberta Brites Araújo, Humberto Moura, Isolda Brasil, Ivo Machado, Ivone Chinita, Jayme Velho (pseudónimo de Rui de Mendonça), Joana Félix, João Bendito, João Carlos Fraga, João-Luís de Medeiros, João de Melo, João Pedro Porto, João Teixeira de Medeiros, Joel Neto, José Manuel Gregório Ávila, José Berto, José Carlos Tavares de Melo, José Daniel Macide, Jorge Diniz, José do Carmo Francisco, José Francisco Costa, José Martins Garcia, José Sabino Luís, José Sebag, Judite Jorge, Leonor Sampaio da Silva, Luísa da Cunha Ribeiro, Luís António de Assis Brasil, Luís Fagundes Duarte, Luís Filipe Borges, Luís Mesquita de Melo, Luís Óscar, Luís Rego, Machado Ávila, Madalena Férin, Madalena San-Bento, Manuel Ferreira, Manuel Jorge Lobão, Manuel Machado, Manuel Tomás, Manuel Viana, Marcolino Candeias, Maria do Céu Brito, Maria Brandão, Maria da Conceição Maciel Amaral, Maria das Dores Beirão, Maria Eduarda Rosa, Maria de Fátima Borges, Maria de Jesus Maciel, Maria João Dodman, Maria João Ruivo, Maria Luísa Lobão, Maria Luísa Soares, Marinho Matos, Mário Cabral, Mário Frayão, Mário Machado Fraião, Marta Dutra, Natália Almeida, Norberto Ávila, Nuno Álvares Mendonça, Nuno Costa Santos, Nuno Dempster, Octávio Medeiros, Onésimo Teotónio Almeida, Orquídea Abreu, Palmira Jorge, Paula de Sousa Lima, Paulo Freitas, Pedro Almeida Maia, Ramiro Dutra, Renata Correia Botelho, Ruben Rodrigues, Rui Duarte, Rui-Guilherme Morais, Rodrigues, Rui Goulart, Rui Machado, Sandra Fernandes, Santos Barros, Sérgio Luís Paixão, Sidónio Bettencourt, Sónia Bettencourt, Sónia Sousa, Urbano Bettencourt, Tomás Borba Vieira, Vasco Pereira da Costa, Vasco Rosa, Victor Rui Dores, Virgílio Vieira, entre muitos outros.
E que dizer daqueles escritores luso-descendentes que, sendo de nacionalidade americana e canadiana, escreveram e escrevem sobre as suas raízes açorianas: Alfred Lewis, Art Coelho, Charles Reis Félix, David Oliveira, Don Silva, Erika Vasconcelos, Francis M. Rogers, Frank Gaspar, Frank Sousa, Julian Silva, Katherine Vaz, Rose Peters Emery, Rose Silva King, Thomas Braga, entre outros?
Desenganem-se os que julgam que uma literatura açoriana se faz apenas com os nomes de Antero de Quental, Teófilo Braga, Ernesto Rebelo, Alice Moderno, Florêncio Terra, Rodrigo Guerra, Nunes da Rosa, Manuel Garcia Monteiro, Armando Côrtes-Rodrigues, Roberto de Mesquita e dos já mencionados Vitorino Nemésio e Natália Correia…
II
Na investigação
(120 nomes)
Convirá também não perder de vista aqueles nomes que, a começar por Gaspar Fructuoso (1522-1591), marcaram e marcam presença na investigação histórica, literária, social, política, científica e religiosa dos Açores e que, de alguma forma, contribuem para dar um “corpo” à literatura açoriana: Alberto Vieira, Albino Terra Garcia, Álvaro Monjardino, Ana Isabel Serpa, António Félix Rodrigues, António Ferreira de Serpa, António Machado Pires, António Manuel Frias Martins, Armando Mendes, Pe. António Rego, António Valdemar, Artur Teodoro de Matos, Augusto Gomes, Avelino de Freitas Meneses, cón. Caetano Tomás, Caetano Valadão Serpa, Carla Silva Cook, Carlos Cordeiro, Carlos Enes, Carlos Lobão, Carlos Ramos Silveira, Carlos Reis, Carlos Riley, Creusa Raposo, Diniz Borges, Eduardo Dias, Eduardo Ferraz das Rosa, Eduardo Mayone Dias, Ermelindo Ávila, Fábio Mendes, Fátima Sequeira Dias, Fernando Faria Ribeiro, Ferreira Moreno, cón. Francisco Carmo, Francisco Carreiro da Costa, Francisco Cota Fagundes, Francisco Ernesto de Oliveira Martins, Francisco Gomes, ten. Francisco José Dias, Frederico Lopes (João Ilhéu), Frederico Machado, Gabriela Funk, Gil Montalverne de Sequeira, Helena Mateus Montenegro, João Afonso Dias, João Bosco Mota Amaral, J. Chrys Chrystello, J. M. Soares de Barcelos, George Monteiro, Gilberta Rocha, Gregory McNab, Heraldo Gregório da Silva, Irene Blayer, Jácome de Bruges Bettencourt, Jacinto Soares de Albergaria, João António Gomes Vieira, João Brum, João Saramago, Jorge Costa Pereira, Jorge Forjaz, tenente-coronel José Agostinho, José de Almeida Pavão, José Andrade, José Arlindo Armas Trigueiros, José Bruno Carreiro, José Carlos Costa, Pe. José Carlos Simplício, José Carlos Teixeira, José do Carmo Francisco, José Enes, Pe. José Idalmiro Ferreira, José Guilherme Reis Leite, J. M. Bettencourt da Câmara, José Luís Brandão da Luz, José Medeiros Ferreira, José de Oliveira San-Bento, José Orlando Bretão, José Quintela Soares, Pe. Júlio da Rosa, Leandro Ávila, Lélia Nunes, Liduíno Borba, Luís Arruda, Luís Conde Pimentel, Luís Mendonça, Luís Meneses, Luís da Silva Ribeiro, Magda Costa Carvalho, pe. Manuel Garcia Silveira, Manuel Tomás Gaspar da Costa, Manuel Vieira Gaspar, Maria Alice Borba Lopes Dias, Maria Clara Rolão Bernardo, Maria da Conceição Vilhena, Maria Margarida Maia Gouveia, Maria Norberta Amorim, Mary Theresa Silvia Vermette, Mário de Lemos, Nestor de Sousa, pe. Norberto da Cunha Pacheco, Paulo Henrique Silva, Paulo Meneses, Pedro de Merelim, Ricardo Madruga da Costa, Rosa Goulart, Ruy Galvão de Carvalho, Rui de Sousa Martins, Sérgio P. Ávila, Susana Goulart Costa, Teixeira Dias, Tomás Duarte, Tony Goulart, Valdemar Mota, Vamberto Freitas, Victor Hugo Forjaz, pe. Vital Cordeiro, Vítor Brasil, Yolanda Corsepius, Zilda França, entre outros.
III
Veios temáticos
Falar de escritores açorianos é falar dos retroactivos da memória. A memória da ilha é, ainda e sempre, a temática primeira e privilegiada. A memória da infância insular, a emigração, o devir do tempo, o amor, o mar, a terra, a vida, o sonho e a morte são, por isso, os veios temáticos mais constantes na escrita de autores açorianos. Encontra-se, nos seus livros, uma permanente relação dialéctica entre a ilha e o mundo, funcionando a ilha como uma alegoria ou um símbolo do mundo.
À boa maneira nemesiana, a ilha é materializada não apenas na sua vertente realista, mas, sobretudo, na sua vertente mítica. E isto porque a ilha é a mãe uterina, simbolizando a constante necessidade de um retorno. Daí que, em maior ou menor grau, todos os escritores açorianos dêem conta da ilha (real e/ou transfigurada) enquanto espaço do vivido, do sentido e do evocado.
Por outro lado, há, nas obras de alguns autores açorianos, uma certa concepção anti-clerical (explícita nalguns autores, implícita noutros). A isso não será indiferente o facto de uma grande parte desses escritores terem passado pelos bancos do Seminário… Há uma geração estigmatizada pelos dogmas da religião e da instituição militar. E também pelos dogmas da política, já que o Verão (quente) de 1975 fez escorraçar das ilhas alguns desses autores.
Por isso mesmo, escrever funcionará como uma forma de catarse e de exorcismo da memória. Por exemplo, a memória dolorosa da Guerra Colonial, de cuja experiência alguns escritores (Álamo Oliveira, Cristóvão de Aguiar, João de Melo, José Martins Garcia, Santos Barros e Urbano Bettencourt) souberam retirar o testemunho literário.
Se evolução houve na ficção narrativa açoriana ao longo das últimas três décadas, tal não se verificou apenas a nível de temática, mas sobretudo em termos de processos de escrita. Assim, de um certo neo-realismo ilhado (tardiamente herdado nos anos 50 e 60 por um Dias de Melo), evoluiu-se para um realismo insulado (sobretudo com a geração da “Glacial”), que mais tarde desembocaria nalgumas interessantes experiências do realismo fantástico.
Actualmente verifica-se que, a pouco e pouco, os escritores açorianos vão-se deixando de nebulosidades narrativas e optam decisivamente por uma escrita que parte do eu para os outros. Não prescindindo da sua condição insulada, estes autores têm vindo a abrir-se ao enigma do mundo, numa escrita que busca espaços do universal. Este é seguramente um caminho a ser trilhado. Para que a açorianidade literária não se deixe ficar ensimesmada nas ilhas.
José Gomes Ferreira, um Homem do Tamanho do Século
Share
Tem quase um século de história a vida de José Gomes Ferreira. Porém, tudo o que deixou escrito ficou intemporal: poesia, ficção, aventuras que seguem o caminho dos sonhos. É ele o poeta militante que acreditava poder salvar o mundo com palavras.
José Gomes Ferreira acreditava no poder transformador da poesia. Observador atento do quotidiano, revoltado com as injusiças, desenvolveu a “teoria do grito poético” para alertar consciências. Percebeu que era um ingénuo mas não desistiu de esgrimir poemas nessa missão salvífica da humanidade.
Nascido na Rua das Musas, no Porto, começou a juntar letras aos 5 anos e aprendeu a ler sózinho. Muito antes de escrever poesia, dedicou-se a escrever música, a sua outra paixão, e compôs o seu primeiro poema sinfónico (“Idílio Rústico”) aos 17 anos. Só muito mais tarde, depois de perceber que não tinha vocação para ser advogado, começa o labor da escrita em jornais e revistas.
Nos poemas que vai fazendo, amadurece uma linguagem poética inovadora, uma voz própria que não reconhece na sua obra de estreia “Lírios do Monte” que publica aos 18 anos e que considera um equívoco adolescente.
Encontrou a “poesia autêntica” em 1931, quando produz “Viver sempre também cansa”, que publica na revista “Presença”. Os seus versos começavam então a ser um estandarte de luta, resistência e esperança.
Autor de livros como “Aventuras Maravilhosas de João Sem Medo”, “Poeta Militante”, “Irreal Quotidiano” ou “Gaveta de Nuvens”, a vida e o percurso literário de José Gomes Ferreira (1900-1985) são recordados no documentário que aqui trazemos, intitulado “Um Homem do Tamanho do Século”.
Zacimba Gaba era princesa de Cabinda em Angola, há 300 anos, quando foi capturada e vendida como escrava para o Brasil. Mas nunca desistiu da sua liberdade.
Zacimba Gaba era princesa de Cabinda, em Angola, há 300 anos, quando foi capturada e vendida como escrava para o Brasil. O fazendeiro português José Trancoso arrematou Zacimba, no Porto da Aldeia de São Matheus, na Capitania do Espírito Santo, com mais uma dúzia de negros escravizados de Angola.
Durante anos Zacimba foi cruelmente castigada por não aceitar atender os desejos do fazendeiro. Um dia, ela foi arrastada da senzala até à Casa Grande, onde foi interrogada pelo senhor, que queria saber se era verdade o boato que se espalhava por todos os lugares de que ela era uma princesa.
Depois de dias e muitas chibatadas, ela confessou sua verdadeira identidade: Zacimba Gaba, princesa da nação de Cabinda. E foi estuprada depois disso.
Localizada na baía do mesmo nome, na costa oeste da África, em Angola, Cabinda teve sua população quase que dizimada, com seus homens e jovens aprisionados e mandados como escravos para o Brasil, durante duzentos anos.
O fazendeiro, sabendo que os seus escravos, em grande maioria, eram oriundos de Angola, e que poderiam invadir a Casa Grande para libertá-la, passou a avisar que, se alguma coisa acontecesse a ele ou à sua família, “Zacimba seria morta”.
Com o passar do tempo, a jovem princesa, aprisionada na Casa Grande, sob ameaça permanente, castigos e sendo violentada pelo fazendeiro e pelo capataz, crescia e tomava coragem para enfrentar, sozinha, o senhor. Ela tinha proibido que os negros tentassem libertá-la e passou a elaborar planos de fuga e de vingança. Zacimba também sofria ao ouvir os lamentos de seu povo sendo cortado no chicote, amarrado no tronco e levado aos ferros, durante os anos que se passaram.
Uma das armas mais poderosas e silenciosas que os escravos usavam contra os senhores ou feitores que lhes impunham castigos desumanos e humilhantes era o envenenamento.
Um dos venenos mais utilizados pelos escravos era extraído da cabeça da “Preguiçosa”, uma cobra temida pelo seu veneno mortal, característica do Vale do Cricaré. Esse veneno era usado por matar com pequenas doses e não logo que ingerido. Os senhores daquela época, até pegarem confiança em quem preparava a comida, obrigava os escravos a experimentarem tudo primeiro. Se não acontecesse nada, o senhor comia. Para não envenenar ninguém do seu povo, Zacimba levou anos para conseguir finalizar o seu plano.
Um dia aconteceu, o senhor da fazenda caiu envenenado, e logo Zacimba deu a ordem para os escravos da senzala invadirem a fazenda. Todos os torturadores foram mortos e a família do senhor da fazenda foi poupada. Zacimba fugiu junto com os outros negros e criou seu próprio quilombo.
Mas Zacimba não esqueceu de seu povo que ainda era escravizado e passou o resto da sua vida libertando os escravos, atacando os navios negreiros que os traziam como prisioneiros. Morreu como uma princesa guerreira, invadindo um navio para libertar seu povo
María Angeles Durán é espanhola e tem em seu poder um documento totalmente legal que a reconhece como a proprietária absoluta do sol desde 2012. O mais incrível é que ela colocou à venda pedaços de metros quadrados do Sol acompanhados de documentos de propriedade, por um euro cada.
Dicionário do açoriano da Ilha de São Miguel de A a Z
“O sotaque dos micaelenses é cerrado. É, por vezes, incompreensível. É fechado. As terminações das palavras ‘são comidas’. Eis algumas das frases que nós, micaelenses, ouvimos frequentemente dos açorianos das outras ilhas e dos continentais. Aliás, graças ao sotaque, somos logo identificados. Nas demais ilhas, somos os ‘são miguéis’. No continente, somos os únicos açorianos”
Há tempos, trouxe à VISÃO expressões linguísticas próprias açorianas, incomuns noutras latitudes do território nacional. Hoje, rebusquei o passado nas gavetas lá de casa, onde não me canso de escarafunchar, e encontrei um livro da autoria de uma querida amiga de infância, que infelizmente nos deixou cedo demais, uma ex-professora da Universidade dos Açores, que chegou a ser vice-reitora da instituição de ensino superior açoriana, a Doutora Fátima Sequeira Dias.
Sequeira Dias nasceu em Ponta Delgada (1958 – 2013). Licenciou-se em História, em 1981, fez o mestrado em Economia do Desenvolvimento, na Universidade Livre de Bruxelas; ainda na capital belga, concretizou uma pós-graduação em História da Europa Contemporânea, depois cursou o Instituto de Estudos Europeus, em Bergen e, em Genebra, o Centro de Economia Internacional.
A estimada Fátima, para além de brilhante académica, foi uma micaelense “dos quatro costados”. Era manifesta a sua devoção pela ilha de São Miguel, sua terra natal, que amou incondicionalmente, ao ponto de, em boa hora, doar a sua biblioteca particular à Câmara Municipal de Ponta Delgada.
Fátima Sequeira Dias intitulou este livro de bolso, “chinchinho”, como ela o designava por ser pequenino, de “Dicionário Sentimental da Ilha de São Miguel de A a Z”, saindo agora em quarta edição com chancela “Publiçor”. “Os livrinhos venderam-se a eito”, observou então, certamente agradada, a autora.
O desenho de um ananás antes do início da obra, fruto exclusivo da ilha de São Miguel apreciado em todo o mundo, é indicador que a abordagem da autora dá a conhecer somente expressões do linguajar micaelense. Conheça algumas delas, as mais usadas, e ousadas, nesta ilha açoriana do paralelo 38, que muitos portugueses do continente não entendem, mas que hoje certamente passarão a entender. Vamos a isso?
Aboiar – “Atirar para o chão propositadamente alguma coisa. O chão significa para o caminho, para a rua, porque nas casas micaelenses reina a limpeza e a ordem.”
À cata de – “Estar à procura de alguém ou de alguma coisa. Percebemos logo quando uma jovem está à cata de namorado.”
Aço – “Vontade. Pachorra. Paciência. Utiliza-se geralmente na negativa.”
Aduelas – “Costelas. Sofremos com frequência delas e por causa delas.”
Albói – “Uma corruptela de claraboia.”
Arredouça – “Baloiço.”
Arrematada – “Uma dona de casa limpa, prendada.”
Atoleimado – “Ter ar de parvo. Não significa necessariamente que se nasceu com tal aspecto.”
Baboso – “Um pateta, quando dito de forma carinhosa. Baboso pelos filhos, pela mulher … Um idiota, quando dito de forma pejorativa.”
Bagoucha – “Nome dado aos gorduchos.”
Belica – “Órgão genital masculino. Falamos dela frequentemente, havendo sempre alguém para recomendar aos adolescentes:
– Cuidado. Não constipes a belica! …
Também se conta que alguém com responsabilidades na política local gostava de pedir nos restaurantes em Lisboa uma belica frita. Quando o empregado esclarecia que não tinha, ele respondia: Isso eu logo percebi!”
Besuga – “É uma mulher atraente, sensual e bonita.”
Biqueiro – “Alguém com pouco apetite.”
Boca santa – “Interjeição para dizer que concordamos com o nosso interlocutor.”
Botar sentido – “Tomar atenção a uma tarefa.”
Calafonas – “De regresso à ilha, todos quantos tinham emigrado para os Estados Unidos da América eram conhecidos pela forma jocosa de calafonas, numa alusão estropiada aos habitantes da Califórnia.”
Carro de praça – “Táxi.”
Comichoso – “Egoísta.”
Consumição – “Apoquentação.”
Corisco mal amanhado – “O que parece um insulto é, afinal, um epíteto afectuoso. Corisco é alguém que nos desassossega, que nos retira da rotina habitual.”
Courão – “Ordinário.”
Cascão – “Alguém que é ordinário, grosseiro. Tanto se aplica a homens como a mulheres, sem distinção. Ser um grande cascão (nunca se é um pequeno cascão) é não prestar para nada.
Ao contrário dos outros cascões que, secando, caem, estes nunca desaparecerão, pois, em São Miguel, quem é cascão, será cascão para sempre!”
Credo em cruz – “Generalizada entre o povo, esta antiga expressão pretende mostrar indignação ou surpresa pelo que se via ou pelo que se ouvia.”
Bolo lêvedo – “É uma espécie de “bolo do caco” madeirense, mas açucarado. Os mais saborosos são feitos nas Furnas, o único lugar que os produzia até há pouco tempo.”
Dar um ensaio – “Dar uma sova.”
Derriço – “Doidice de cariz amoroso com forte pendor sexual.”
Desapega-te – “Larga-me. Deixa-me.”
Destarelado – “Alguém que não tem tarelo.”
Laparoso – “Há micaelenses que dividem as pessoas em dois géneros: os laparosos (os maldosos) e os sagrados (os bondosos). Não é raro sermos ouvidos com atenção, sendo interrompidos com a palavra “sagrada.”
Intenicar – “Picar alguém. Arreliar. É costume os irmãos intenicarem uns com os outros. Dizem que esta prática também é comum nos casamentos prolongados …”
Fraco da braguilha – “Aquele que “prevarica” com alguma insistência.”
Gaitadas – “Gargalhadas ruidosas. As mulheres entre si dão muitas gaitadas.”
Fogo te abrase! – “Raios que te partam! Não me chateies, praga!”
Fim do mundo em cuecas – “Dizemos a propósito de um acontecimento nunca visto. O fim do mundo já é assustador. Em cuecas ainda é muito pior.”
Fema – “É a forma estropiada de dizer fêmea. Uma bela fema ou uma boa fema é um elogio que nem todas as mulheres podem receber. As que o recebem, apreciam-no, mesmo quando não o confessam.”
Farelagem – “Vem de farelo. Logo, não presta. Rafeirada. Gente de má índole. As mães aconselham os filhos a não se aproximarem da farelagem.”
Tirar uma chapa – “Fazer uma radiografia. Hoje não há “doutor” que não nos peça uma chapa.”
Tapona – “Bofetada.”
Estás cegando – Estás a tirar-me o juízo. A aborrecer-me. Fico cega para te responder e para te dar um ensaio.”
Falar à moda – “É a expressão que se emprega à maneira de falar dos continentais.”
Dia de São Vapor – “Este era o dia em que o barco da Empresa Insulana de Navegação atracava no porto de qualquer das ilhas do arquipélago. Quanto mais pequena e periférica era a ilha, maior era o alvoroço entre a população pela chegada do vapor.”
Dia da pombinha – “Houve um tempo nos Açores – o chamado “tempo de Mota Amaral” (Mota Amaral foi o Presidente do I ao V Governo Regional dos Açores, 1976-1995), em que as grandes obras públicas inauguradas tinham de ser sagradas. O Hospital de Angra do Heroísmo sendo o Hospital do Santo Espírito, o de Ponta Delgada foi o Divino Espírito Santo.
Assim, não é de estranhar que também o aeroporto de São Miguel, obra emblemática do regime autonómico, tivesse recebido a designação de Aeroporto João Paulo II, em reconhecimento pela viagem de Sua Santidade à ilha, quatro anos antes.
Dentro do mesmo espírito, ao contrário das datas oficiais, a data da Comemoração da Autonomia, o dia dos Açores, não tem uma data certa, porque segue o calendário litúrgico. O dia dos Açores, é, assim, a segunda-feira de Pentecostes, designada nos Açores como o dia da Pombinha.”
Destrocar – “Trocar.”
Correr roupa – “Este é o termo utilizado para engomar. Passar a ferro.
Conta-se que uma rapariga, servindo como criada uma patroa continental, perguntava-lhe todos os dias se podia correr. A patroa, desconhecendo a expressão, ficava alarmada com o pedido e respondia-lhe que não. Passaram-se os dias e a patroa, vendo a roupa por engomar a acumular-se na cesta, inquiriu a empregada sobre tal facto. A rapariga, surpreendida, respondeu-lhe que todos os dias tinha perguntado:
– Posso corrê?”
É um braçado – “Diz-se de alguém verdadeiramente bonito, interessante, atraente.”
Botar sentido – “Tomar atenção a uma tarefa. Na ilha, conseguimos a proeza de botar sentido a tudo, sobretudo às conversas que não nos dizem respeito.”
Corisquinho/a – “Admoestação carinhosa às crianças. Há também apaixonados que gostam de chamar corisquinha às amadas.”
Engalinhar – “Intenicar. Arreliar.”
Sopa de fueiro – “Fueiros são os paus que se espetam nas carroças para prender a carga. Dizer a alguém que quer sopa de fueiro é prometer-lhe uma sova.”
É de arder – “Qualquer coisa que dói. Não nos referimos a dores físicas, apenas a mágoas e a desgostos. Há decisões que são de arder… Vemos coisas que são de arder … Ouvimos comentários que são de arder … E, alguns deles ardem tanto que chegam a queimar!”
“O sotaque dos micaelenses é cerrado. É, por vezes, incompreensível. É fechado. As terminações das palavras ‘são comidas’. Eis algumas das frases que nós, micaelenses, ouvimos frequentemente dos açorianos das outras ilhas e dos continentais. Aliás, graças ao sotaque, somos logo identificados. Nas demais ilhas, somos os ‘são miguéis’. No continente, somos os únicos açorianos.”
Em Viseu, na terra dos chs…, uma rapariga que servia ao balcão de um café, ouvindo o pedido de uma micaelense de sotaque cerrado, só pôde concluir:
– Que falar exquexito!” – remata Fátima Sequeira Dias neste seu delicioso livrinho de bolso, que tanto nos apraz aqui recordar.
“O sotaque dos micaelenses é cerrado. É, por vezes, incompreensível. É fechado. As terminações das palavras “são comidas”. Eis algumas das frases que nós, micaelenses, ouvimos frequentemente dos açorianos das outras ilhas e dos continentais. Aliás, graças ao sotaque, somos logo identificados. Nas demais ilhas, somos os “são miguéis”. No continente, somos os únicos açorianos
Se você acha que tem problemas e tudo na vida é ruim, veja como os filhos do Nepal vivem no Himalaia.
Estamos sempre descontentes com algo, algo está faltando.
Eu gostaria de um segundo carro, um apartamento maior, um relógio, qualquer coisa.
Veja como as crianças vivem no Nepal, como elas precisam sobreviver em condições difíceis.
Depois disso, todos os nossos problemas parecem ser totalmente sem sentido.
Esse garoto mora nas montanhas do Nepal, a propósito, quantos anos ele terá?
Eu o conheci a uma altitude de 4000.
E se eu estou lá sozinho, como turista, ele terá que morar lá e provavelmente não conseguiria sair para lugar nenhum.
É necessário trabalhar desde os primeiros anos, assim que a criança pode fazer pelo menos alguma coisa ao redor da casa, ele começa a fazê-lo.
Se você não estocar a quantidade necessária de madeira e mato, você não pode viver até a primavera.
E ao redor da montanha, é só pedra e neve.
Se quer encontrar e trazer lenha, você tem que andar vários quilômetros, descendo até a cintura das montanhas, onde há pelo menos algum tipo de floresta.
Em seguida, carregue uma cesta com 20 kg de volta ao topo.
As condições em que as crianças vivem, caso contrário você não pode chamar duras.
Os fracos aqui não sobrevivem.
Os pais não têm a oportunidade de se sentar com bebês em casa, se não trabalharem, não haverá comida.
Portanto, eles colocam o bebê em uma cesta, colocam uma atadura especial, para que você possa carregar o berço pelas costas e ir para o campo para trabalhar.
Sem maternidade, benefícios e pagamentos.
Esta menina tem 11 anos, vive em uma pequena aldeia tibetana no Nepal.
Na memória, existem 20 casas, talvez 25.
Todo o seu entretenimento, é correr à noite com crianças como ela.
De tarde, ela observa a manada de animais que pastam nas montanhas e tem que segui-los.
A casa habitual dos camponeses nepaleses, no centro da sala é um fogão em que a comida é preparada, e com a ajuda de que o alojamento é aquecido.
Eles dormem bem ali, e esta sala é a sala de estar onde o hóspede chegou.
Existem áreas no Nepal onde a civilização, mesmo que venha, não será muito cedo.
Eu viajei lá por dois meses, colectando material para artigos.
Não há electricidade, comunicação celular, estradas, televisão e rádio.
Eles vivem aqui exactamente da mesma maneira que centenas de anos atrás.
Depois de visitar esses lugares, você começa a olhar para todas as nossas bênçãos da civilização de uma maneira completamente diferente, por exemplo, um banheiro ou água quente …
Para conseguir água quente, você tem que se esforçar, encontrar lenha, aquecer a água e de alguma forma lavar.
Nós, nas cidades, nem prestamos atenção a isso, e se, Deus me livre, eles desligam a água por uma semana no verão – isso é uma tragédia total, sobre a qual devemos contar imediatamente a todos os nossos amigos e conhecidos!
Если вы думаете, что у вас проблемы и в жизни всё плохо, посмотите, как живут дети Непала в Гималаях.
Мы вечно чем-то недовольны, чего-то не хватает. Хочется вторую машину, квартиру побольше, часы покруче, и что бы за это, ничего не было. Посмотрите, как живут в Непале дети, как им приходится выживать в непростых условиях. После этого, все наши проблемы кажутся сущей ерундой.
Этот мальчик живёт в горах Непала, кстати, сколько ему дадите лет? Я встретил его на высоте за 4000. И если я там оказался по своей воле, как турист, то ему там приходится жить и скорее всего, он никуда оттуда не сможет уехать. Работать приходится с самых ранних лет, как только ребёнок может делать хоть что-то по дому, он начинает это делать. Нет такого, хочешь Петенька, делай, не хочешь, не делай. Если не запасти нужное количество дров и хвороста, можно до весны и не дожить. А вокруг горы, камень и снег, что бы принести дров, приходится ходить по несколько километров в одну сторону, спускаясь до пояса гор, где есть хоть какой то лес. Потом, нести корзину весом за 20 кг обратно наверх.
Условия, в которых живут дети, иначе как суровыми не назовёшь. Слабые тут не выживают.
Родители не имеют возможности сидеть с младенцами дома, если они не будут работать, то не будет еды. Поэтому, младенца кладут в корзину, надевают специальную повязку, что бы можно было носить за спиной люльку и идут в поле работать. Никакого вам материнского капитала, пособий и выплат.
Этой девочке 11 лет, она живёт в маленькой тибетской деревне в Непале. На память, там домов 20, может быть 25. Все её развлечения, это вечером побегать с такими же, как она детьми. Днём она следит за стадом животных, которые уходят пастись в горы, и ей приходится следовать за ними.
Обычный дом непальских крестьян, В центре комнаты стоит печь, на которой готовят еду, и с помощью которой обогревается жильё. Спят тут же, и эта комната является гостиной, куда приводят зашедшего гостя.
Есть в Непале такие районы, куда цивилизация, даже если и дойдёт, то очень не скоро. Я там путешествовал два месяца, собирая материал для статей. Тут нет электричества, нет сотовой связи, не существует дорог, нет тв и радио. Здесь живут ровно так же, как и сотни лет назад. После посещения этих мест, совсем по другому начинаешь смотреть на все наши блага цивилизации, например, туалет или горячая вода… Чтобы там устроить себе горячую воду, надо очень постараться, найти дрова, разогреть воду и как-то помыться. У нас же, в городах, мы даже не обращаем на это внимания, а если, не дай бог, выключают летом на неделю воду – это уже целая трагедия, о которой надо немедленно рассказать всем друзьям и знакомым!