Yesterday at 11:32 ·Penas Róias, Mogadouro. Ainda se vão vendo por essa província fora restos de velhas fortalezas desmanteladas, comidas das heras, baluartes já inúteis que algum capricho inexplicável faz resistir ao tropel dos séculos e mantém de pé. Mas atenção: se hoje são esta decrepitude que se vê, já foram briosas e altaneiras algum dia. E diante delas, mais do que pingar um ‘sic transit’ compungido, uma pessoa interroga-se: será que estas terras sáfaras justificavam o esforço de erguer muralhas para as defender de cobiças alheias? As próprias ruínas parecem responder: justificavam, sim senhor. As terras podem ser — e são — sáfaras, mas são nossas. São parte de uma nação, território de uma independência. Não as defender é vender a alma ao demónio.
Partilha-se reportagem da RTP-Madeira sobre vestígios de ocupação, aparentemente pré-histórica, desse arquipélago.
Neste trabalho são entrevistados Magno Jardim e David Francisco.
“(…) não podia deixar de entrar num restaurante gourmet da moda. Vesti um Armani que comprei num saldo dos chineses, calcei umas sapatilhas com uma virgula estampada que regateei ao ciganito da feira e esvaziei, pelo pescoço abaixo, meio(…)”
• Imperdível o texto de Francisco Gouveia!
Gourmet? Nunca mais lá volto. Sabem que mais? Porque se quero comer aperitivos, como bolinhos de bacalhau e tremoços, que são muito mais saudáveis e baratos.
Gourmet? Nunca mais lá volto. Sabem que mais? Se quero comer aperitivos… como bolinhos de bacalhau e tremoços, que são muito mais saudáveis e baratos.
Sou um tipo moderno. E chique. Muito chique. Por isso não podia deixar de entrar num restaurante gourmet da moda. Vesti um Armani que comprei num saldo dos chineses, calcei umas sapatilhas com uma vírgula estampada que regateei ao ciganito da feira e esvaziei, pelo pescoço abaixo, meio frasco de Chanel dos marroquinos.
Fui ao gourmet e tramei-me!
E foi assim, cheio de cagança, como mandam as regras do pelintra luso, que fui jantar ao tal restaurante, gerido por um “chef” reputado com categoria internacional e olímpica.
Tramei-me! Antes tivesse ido ao tasco da esquina aviar uma bifana! Confesso que já levei muita tanga, mas como esta, nunca! Passei fome, fui gozado e fui roubado!
Fui ao gourmet e tramei-me!
Sempre achei que cozinhar era uma ato de descontração, de partilha, de alegria, de afeto. E eu devia desconfiar, porque aqueles concursos gastronómicos das TVs transformaram uma atividade social sadia, numa agressão stressante, provocadora de lágrimas e depressões.
Já para não falar das parvoíces dos mestres cozinheiros da moda, cujos pratos estapafúrdios e minimalistas se apelidam agora de “criatividade culinária”.
Fui ao gourmet e tramei-me!
Colocaram-me um prato à frente que é mais difícil de decifrar que as palavras cruzadas do JN ao domingo.
Um prato que exibe 5 cm2 de um pobre robalo que pereceu inutilmente só para lhe extraírem um pedacito do cachaço, meia batata engalanada com um pé de salsa, e 2 ervilhas a nadarem numa colher de chá de um azeitado molho de escabeche, bem disfarçado com um nome afrancesado que nem vem nos dicionários.
Para remate, três riscos de uma substância pastosa, estilo Miró, para preencher os restantes 90% do prato vazio.
Fui ao gourmet e tramei-me!
E o bruto do português, habituado à sua travessa de cozido e ao panelão de feijoada, olha para aquilo com uma cara de parvo capaz de partir todos os espelhos lá de casa.
Esboça-se um sorriso amarelo, engole-se em seco, diz-se que está tudo ótimo ao empregado de mesa que mais parece uma melga à nossa volta, e enfiam-se dois Xanaxs quando nos metem a conta à frente. E, a muito custo, cala-se o berro de duas peixeiradas à nortenha que nos vai na alma.
Fui ao gourmet e tramei-me!
Nunca mais lá volto. E sabem que mais?
Porque se quero comer aperitivos, como bolinhos de bacalhau e tremoços, que são muito mais saudáveis e baratos.
Porque para ver pintura abstrata, vou a uma exposição.
Fui ao gourmet e tramei-me!
Porque detesto jantar uma comida onde toda a gente meteu as mãos.
Porque para ser roubado bastava ir à Autoridade Tributária, vulgo Finanças.
E, acima de tudo, porque desconfio de um cozinheiro que vive e trabalha com a ambição obsessiva de ser medalhado por uma companhia de pneus.