UMA MÃO CHEIA DE AÇORIANIDADE GAÚCHA

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Foi uma honra escrever o prefácio deste novo livro 🇧🇷

“UMA MÃO CHEIA DE AÇORIANIDADE GAÚCHA


1.
A tese de doutorado de Célia Silva Jachemet, agora consubstanciada nesta obra À Redescoberta das Raízes, tem tanto de meritório quanto de pioneiro.
Não consta que as relações entre os Açores e o Rio Grande do Sul no período de 1976 a 2016 já tenham sido assim devidamente estudadas, menos ainda ao mais alto nível académico.
E, no entanto, trata-se de um período marcante e determinante para o relacionamento da Região Autónoma dos Açores com a diáspora açoriana.
Está de parabéns a autora. Não só por acrescentar atualidade a uma cumplicidade cultural açoriano-gaúcha de 270 anos, mas também por fazê-lo de forma interessante e proveitosa.
Célia Silva Jachemet tem, ela própria, uma relação ancestral e uma ligação atual às ilhas açorianas, que visita regularmente desde 1988 por interesse académico ou dever institucional, seja como antiga diretora da Secretaria Municipal de Educação e Cultura de Gravataí, promovendo a criação da Sala Açoriana Vitorino Nemésio, seja enquanto cofundadora e antecessora presidente da própria Casa dos Açores do Estado do Rio Grande do Sul.
Portanto, escreve aqui com a razão e o coração.

2.
As relações históricas entre o Arquipélago dos Açores e o Rio Grande do Sul remontam à presença açoriana em terras gaúchas a partir de 1752 e institucionalizam-se com a criação constitucional da Região Autónoma dos Açores em 1976.
Sob a orientação política dos seus sucessivos presidentes – João Bosco Soares Mota Amaral (1976-1995), Alberto Romão Madruga da Costa (1995-1996), Carlos Manuel Martins do Vale César (1996-2012), Vasco Ilídio Alves Cordeiro (2012-2020) e José Manuel Cabral Dias Bolieiro (2020-2024) – o Governo dos Açores desenvolve uma relação oficial com as comunidades açorianas e açordescendentes da América em geral, do Brasil em especial, e, neste caso, do Estado do Rio Grande do Sul, através de duas diferentes e consecutivas unidades orgânicas, o Gabinete de Emigração e Apoio às Comunidades Açorianas e a Direção Regional das Comunidades, com seis dirigentes em quase meio século:
• Duarte Manuel Bettencourt Mendes, diretor do antigo Gabinete de Emigração e Apoio às Comunidades Açorianas, de 1976 a 1996;
• Alzira Maria Serpa Silva, diretora do mesmo Gabinete, de 1996 a 1998, e primeira Diretora Regional das Comunidades, de maio de 1998 a janeiro de 2009;
• Rita Nazaré Soares Bettencourt Faria Machado Dias, Diretora Regional das Comunidades, de janeiro de 2009 a setembro de 2010;
• Maria da Graça Borges Castanho, Diretora Regional das Comunidades, de outubro de 2010 a novembro de 2012;
• Paulo César Câmara Teves, Diretor Regional das Comunidades, de novembro de 2012 a dezembro de 2020;
• José Maria de Medeiros Andrade, Diretor Regional das Comunidades, de dezembro de 2020 a fevereiro de 2024.

3.
A mútua aproximação entre a Região Autónoma dos Açores e o Estado do Rio Grande do Sul concretiza-se, por um lado, no âmbito académico e, por outro, no plano institucional.
No âmbito académico, essencialmente, através da participação em congressos.
Primeiro, com os Congressos das Comunidades Açorianas, promovidos pelo Governo dos Açores: o primeiro em 1978, nas cidades açorianas de Angra do Heroísmo, Horta e Ponta Delgada; o segundo em 1986, na ilha Terceira; o terceiro em 1991, também na Terceira; o quarto em 1995, na ilha do Faial.
Depois, com os Congressos Internacionais das Festas do Divino Espírito Santo: o primeiro em 1999, em Florianópolis, promovido pelo Núcleo de Estudos Açorianos da Universidade Federal de Santa Catarina; o segundo em 2006, em Porto Alegre, organizado pela Casa dos Açores do Estado do Rio Grande do Sul; mas também o terceiro em 2008, em Ponta Delgada, Açores; o quarto em 2010, em São José, Califórnia; o quinto em 2012, em Angra do Heroísmo, Açores; o sexto em 2014, em Winnipeg, Canadá; e o sétimo em 2016, em Alenquer, no continente português.
Acresce ainda, por exemplo, o ciclo de palestras “Raízes Açorianas no Brasil”, que decorre nas Casas dos Açores de São Paulo, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Rio de Janeiro durante o ano de 2003.
No plano institucional, especialmente, através da instalação das Salas Açorianas e, sobretudo, da criação da Casa dos Açores do Estado do Rio Grande do Sul.
Primeiro, em 1991, com as Salas Açorianas de Capão da Canoa, General Câmara, Gravataí, Mostardas e Osório; em 1992, com as Salas Açorianas de Rio Pardo, Santo Antônio da Patrulha, Taquari, Tramandaí, Triunfo, Viamão e Porto Alegre; em 2002, com as Salas Açorianas de Rio Grande, Piratini, Venâncio Aires, Ilha da Pintada e Balneário Pinhal; todas impulsionadas pelo Instituto Cultural Português, equipadas pelo Governo dos Açores e acolhidas pelas respetivas prefeituras municipais.
Depois, em 2003, com a criação da Casa dos Açores do Estado do Rio Grande do Sul (CAERGS), consequência natural da “Associação Amigos dos Açores” de Gravataí (2000), sucessivamente presidida por Régis Albino Marques Gomes (2003-2015), Célia Silva Jachemet (2015-2018), Carla Marques Gomes (2018-2021) e Viviane Peixoto Hunter (2021-2024), como sendo a quinta instituída em terras brasileiras: depois de Rio de Janeiro (1952), São Paulo (1980), Bahia (1980) e Santa Catarina (1999) e antes de Maranhão (2019) e Espírito Santo (2022).
Acresce a participação da CAERGS no Conselho Mundial das Casas dos Açores, congregando 17 congéneres de Portugal, Brasil, Estados Unidos da América, Canadá, Uruguai e Bermuda, que realiza uma reunião presencial da sua assembleia geral anual na cidade de Gravataí em 2007.

4.
Já depois do horizonte temporal da obra presente (1976-2016), outros passos importantes são dados para estreitar a ponte atlântica entre a Região Autónoma dos Açores e o Estado do Rio Grande do Sul.
Em 2021, concretizando uma deliberação unânime do Parlamento dos Açores, o Governo Regional instala o órgão consultivo “Conselho da Diáspora Açoriana”, com a eleição de 19 conselheiros pelas diferentes comunidades, incluindo cinco representantes dos açorianos e açordescendentes dos estados brasileiros, de entre os quais Régis Marques Gomes, pelo Rio Grande do Sul.
Também em 2021, a Direção Regional das Comunidades institui o “Encontro Açores Brasil”, sublinhando que o Brasil foi o primeiro destino histórico da grande emigração açoriana e que os brasileiros são a maior comunidade estrangeira radicada nos Açores. O primeiro encontro decorre em outubro de 2021, em Ponta Delgada; o segundo em março de 2022, em Angra do Heroísmo; o terceiro em julho de 2022, no Rio de Janeiro; e o quarto em dezembro de 2023, em Florianópolis; com as reiteradas participações da presidente da Casa dos Açores do Estado do Rio Grande do Sul, Viviane Peixoto Hunter, e do conselheiro da diáspora açoriana Régis Marques Gomes.
Em 2022, na abertura das comemorações dos 270 anos do povoamento açoriano do Estado do Rio Grande do Sul e dos 250 anos da fundação açoriana da cidade de Porto Alegre, são lançadas as bases para a futura instalação de uma Loja dos Açores no importante mercado público da capital estadual.
Já em 2023, no encerramento das mesmas comemorações, ficam oficialmente criados os primeiros dez “Centros Culturais Açorianos” nos municípios gaúchos de Alegrete, Arroio Grande, Cachoeira do Sul, Gramado, Jaguarão, Porto Alegre, Santo Antônio da Patrulha, São Gabriel, São José do Norte e Tavares, com a assinatura de protocolos de cooperação entre o Governo dos Açores, a Casa dos Açores do Estado do Rio Grande do Sul e as respetivas prefeituras municipais, acompanhada pela entrega açoriana dos primeiros acervos culturais.
Acresce também o contributo municipal de aproximação transatlântica, designadamente, com o potencial movimento de irmanação oficial de cidades açorianas e gaúchas, já concretizado entre Porto Alegre/Ribeira Grande e Gramado/Angra do Heroísmo e agora alargado para Gravataí/Horta, entre outros processos em curso.

5.
No final deste texto de abertura para um livro que bem merece ser lido e revivido, destaco cinco nomes importantes, de tantos outros possíveis, na relação contemporânea entre os Açores e o Rio Grande do Sul.
Pelo lado açoriano, João Bosco Mota Amaral, o visionário que primeiro percebeu o potencial da diáspora e logo projetou uma ponte política de relação institucional com as nossas comunidades das américas, e Duarte Manuel Bettencourt Mendes, o cabouqueiro que diligentemente lançou as pedras fundamentais para a construção dessa ponte transatlântica.
Pela parte gaúcha, Santa Inèze Domingos Rocha, que assumiu o desafio de coinaugurar essa ponte de dois sentidos enquanto presidente do Instituto Cultural Português, e Régis Albino Marques Gomes, que preservou e projetou o legado açoriano como fundador e presidente de uma Casa dos Açores no extremo sul do Brasil.
Por ambas as margens deste “oceano que nos separa e une”, Célia Silva Jachemet, com a obra que agora publica, relevando o contributo das últimas quatro décadas para o resgate dos primeiros três séculos.
Bem hajam!

José Andrade
Diretor Regional das Comunidades
do XIII Governo da Região Autónoma dos Açores”

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