Mês: Janeiro 2015

  • Os mouros na Península Ibéria (Al-Andalus) – Portugalécia

    Views: 6

    História – Os mouros na Península Ibéria (Al-Andalus) – Portugalécia.

    https://youtu.be/Av0MCGVcBeM

    http://portugalecia.weebly.com/iniacutecio/historia-os-mouros-na-peninsula-iberia-al-andalus

    Fontes: Wikipédia | Youtube

    ImagemA Expansão Islâmica

    Em 711 a Península Ibérica foi invadida por exércitos Islâmicos norte-africanos, conhecidos pela designação genérica de mouros – tratava-se essencialmente de berberes com elementos árabes. A presença e domínio islâmico na Península (chamada Al-Andalus, em árabe الإندلس ) veio a revelar-se um processo duradouro com importantes consequências civilizacionais. Se a campanha de conquista muçulmana, aproveitando-se de uma guerra civil entre diferentes facões visigodas pelo trono da Hispânia visigótica, demorou somente 8 anos, o domínio mouro em território português prolongou-se até à conquista definitiva do Reino do Algarve pelos portugueses em 1249.

    De facto, foi a presença e o domínio islâmico que catalisou os processos produtores quer do Estado, quer da própria nacionalidade portuguesa, no contexto da reacção das elites e populações cristãs a que se convencionou chamar «Reconquista». Mas não pode pensar-se este processo de cinco séculos como um que tenha oposto linearmente as populações cristãs aos invasores islâmicos. Ocorreram processos de aculturação e entrecruzamento entre as populações autóctones da Península e as populações ditas «mouras». Os processos culturais foram de extrema importância: a complexidade, sofisticação e envergadura civilizacional, os contributos tecnológicos e científicos, linguísticos e literários, intelectuais, artísticos, etc., do Islão na Península Ibérica (e, por essa via, para toda a Civilização Europeia) foram de tal ordem que levam vários historiadores a falar, pelo menos para alguns dos períodos de dominação islâmica, de uma idade de ouro civilizacional, a que toda a Europa muito deveria.[58]

    Além dos processos culturais, também ocorreram decerto processos démicos ou populacionais. Esta questão, a do contributo de populações mouras para o património genético das populações ibéricas modernas, levantou desde cedo muita controvérsia, não só por causa das conotações religiosas e políticas dessa presença moura no âmbito das discussões e competições nacionais e estatais intra-europeias, mas, acima de tudo, pelas conotações «raciais» dessa presença.
    Desde a generalização das ideologias racistas e racialistas europeias a partir do século XIX, o período mouro da história peninsular foi usado como argumento para desqualificar «racial» e culturalmente os povos ibéricos da sua pertença europeia. Tais argumentos equiparam essa suposta componente norte-africana dos povos ibéricos a uma componente apenas qualificada como «africana» (ou seja, tendencialmente, subsariana, isto é, «negra»). Nos mundos de língua inglesa e alemã, por exemplo, a definição de «mouro», embora não sem ambiguidades, torna o termo praticamente sinónimo de «negro». Estas construções, particularmente vindas do mundo anglófono, foram historicamente mais relevantes aquando dos processos de competição colonial entre as potências ibéricas, particularmente a Espanha e as do norte da Europa, especialmente quando tais conflitos foram replicados luta entre catolicismo e protestantismo.
    Estas visões racistas e racialistas, tal como muitas outras perspetivas mais generalizadas (inclusive na própria Península Ibérica) que, ainda que não tão marcadamente discriminatórias como as anteriores, fazem dos mouros ibéricos uma população e categoria «racial» radicalmente diferente das populações autóctones ibéricas, não têm em consideração os seguintes aspetos:

    • As populações norte africanas (bem como os pequenos grupos de árabes, de subsarianos, de escravos eslavos, de persas, etc., a elas associadas), mesmo com os diferentes momentos de entrada dessas populações ao longo dos séculos (coincidindo em grande medida com a entrada de novos exércitos aquando dos momentos de luta interna, política ou religiosa – fitna, no Al-Andalus), foram sempre uma minoria que não terá ultrapassado os 10% do conjunto da população total.[59]
    • A maioria da população muçulmana da Península Ibérica era constituída por autóctones ibéricos convertidos (os chamados Muladis), isto é; a maioria dos “mouros” eram de facto europeus, ibéricos de religião islâmica.[59]
    • A maioria da população em zonas de domínio muçulmano, ao longo de todos os séculos de presença, não era muçulmana (com algumas exceções localizadas espacial e temporalmente), mas sim população autóctone ibérica que se manteve de língua românica e cristã (do rito visigótico), ainda que fortemente arabizada do ponto de vista cultural – os chamados moçárabes[60] (repare-se que Moçárabe, para designar a população ou a língua, é um termo moderno do século XIX – essas populações referiam-se a si próprias e à sua língua como Latinus[61] ).
    • A maioria das populações norte-africanas que de facto se estabeleceram na península eram berberes. Os Berberes, particularmente das regiões mais litorais, não podem ser descritos como uma população radicalmente diferente das populações sul-europeias, com as quais, aliás, apresentam ligações ancestrais.
    • Mesmo nas elites islâmicas, a presença de elementos conversos não era despicienda – mesmo algumas dinastias reinantes tinham origem hispanovisigótica (como os Banu Qasi, fundados pelo converso hispano-visigodo Conde Cássio).
    • Os processos sociais do final da Reconquista e do período seguinte instituíram sistemas de discriminação social (geridos em parte pelas autoridades religiosas) que guetizaram e até expulsaram (para o Norte de África) fatias significativas das populações ditas mouriscas (as quais de qualquer modo, tinham uma origem basicamente autóctone ibérica).

    Quando os mouros dominaram a Europa

    Este é um caso onde a verdade é mais estranha que a ficção.
    A história de Al-Andalus (península ibérica) não é o conto do bem contra o mal, Oriente contra o Ocidente. É intrigante e complexa, engenhosa e brutal. É muito humana e muito turbulenta. E é por isso que deve ser lembrada, e não excluída dos livros de história.

    Maria Regina Teixeira WeckWerth
    15/9/2015 02:23:1
  • columbário ou Túmulo romano nos Açores.

    Views: 1

    Túmulo romano nos Açores.

    http://videos.sapo.pt/1s9uPYS6mZa8ByINnok9 http://videos.sapo.pt/1s9uPYS6mZa8ByINnok9

     

  • 500 anos das relações históricas entre Portugal e o Vietname, a outrora Conchichina

    Views: 3

    Portugal – Vietname, 500 anos de História
    January 9, 2015 Ásia, Todas as Categorias No comments
    PORTUGAL – VIETNAME, 500 ANOS DE HISTÓRIA Os aliados Putao-Nhá
    Os aliados Putao-Nhá

    Com o alto patrocínio da Presidência da República, assinalam-se, em 2015, os 500 anos das relações históricas entre Portugal e o Vietname, a outrora Conchichina.

    A sessão inaugural das comemorações – iniciativa conjunta da Sociedade Histórica da Independência de Portugal (SHIP), do Centro de História de Aquém e De Além Mar (CHAM) e da Associação de Amizade Portugal-Vietname (NamPor) – terá lugar no dia 15 de Janeiro, no Salão Nobre do Palácio da Independência, Largo de São Domingos (ao Rossio), em Lisboa. Será proferida uma conferência pela historiadora Isabel Augusta Tavares Mourão sobre as relações luso-vietnamitas ao longo de meio milénio.

    Do programa consta ainda a inauguração de uma exposição de pintura vietnamita intitulada “A Paz na Arte”, que estará aberta ao público de 16 a 23 de Janeiro.

    OS PUTAO-NHÁ

    Entre o grupo de aventureiros portugueses que, em 1515, inaugurou a era do contacto vietnamita com o mundo ocidental constava o nome de Duarte Coelho, que também deixou pegadas pelo Brasil. Continua por localizar um padrão que ergueu algures na orla costeira dos antigos reinos do Tonquim, Cochinchina e Champa, que correspondem ao actual território vietnamita.

    Não só não deixámos fortalezas no Vietname como recusámos, por diversas ocasiões, a oferta dos soberanos locais para que edificássemos feitoria na antiga cidade de Tourão (actual Danang), embora aí tivéssemos comerciado intensamente, assim como em Sinoa (actual Hué), e ainda em portos mais a norte, vizinhos a Hanói.

    Contemporânea de Macau e Malaca, Hoi An, vila ribeirinha a sul de Danang, era conhecida outrora pelo nome de Faifo e, entre os séculos XVI e XIX, foi um dos mais importantes portos internacionais do Sudeste Asiático. Os seus actuais habitantes referem-se aos portugueses – os putao-nhá – como «os primeiros europeus a chegar ao Vietname», mas ficam por aí, desconhecendo que a Norte, a pouco mais de mil quilómetros da sua terra, o território de Macau – para onde tantos vietnamitas emigraram ou encontraram refúgio, após meses à deriva nos mares do Sul da China, sujeitos às intempéries – teve mais de quatro séculos para se habituar à presença desses estranhos de nariz comprido e pelo no corpo que, entre outras bagagens, trouxeram a espingarda e a cruz para estas paragens.

    O PAPEL DE MACAU

    Muito há ainda a investigar, a desmistificar e a divulgar no que se refere às relações dos portugueses com as famílias rivais dos Nguyen e dos Trinh, senhores dos reinos da Cochinchina e do Tonquim, ambos fiéis vassalos do imperador da China. Umas e outras tentaram atrair os mercadores portugueses à sua esfera de influência, se bem que tenha havido longos períodos de interdições ao comércio e até guerras, provocadas sobretudo pelo excesso de zelo dos missionários que, a bordo das embarcações mercantis, a todo o lado chegavam.

    Ao longo de todo o processo dos descobrimentos, religião e comércio sempre estiveram associados, para o bem e para o mal. De forma a poderem exercer a sua actividade livremente, padres e comerciantes muniam-se de valiosos presentes, pois, nessa matéria, os Trinh e os Ngyuen eram insaciáveis. Fundamental para a manutenção das boas relações foi o fornecimento de tecnologia militar, armas e homens prontos a dar formação aos exércitos locais. Nessa área há a salientar o papel de um mestiço de Macau, João da Cruz, principal fundidor na capital imperial de Sinoa. Existem, ainda hoje, espalhadas pelos terrenos intramuros da fortaleza dessa cidade, canhões, bacias, caldeirões e outros objectos de bronze que ostentam o seu selo.

    EVANGELIZAÇÃO A VÁRIAS VOZES

    No rasto dos mercadores, em 1527, vieram os missionários dominicanos, e, em 1535, o primeiro militar, o capitão António Faria, ao que consta, responsável pelo estabelecimento do entreposto comercial português em Faifo. Outros missionários portugueses chegariam entretanto, acabando por estabelecer uma missão em 1596. Mas só dezanove anos mais tarde, quando os jesuítas, expulsos do Japão, foram autorizados a entrar no Vietname, é que o cristianismo ganhou verdadeira solidez. No ano da graça de 1615, chegavam a Hoi An, vindos das terras do Sol Nascente, o napolitano Francisco Buzoni e o português Diego Carvalho, os primeiros jesuítas a pisarem território vietnamita. Com eles vinha o leigo António Dias e Joseph Paul, um japonês convertido.

    Bem cedo os europeus se deram conta da extrema dificuldade em efectuar um comércio rendível com o Vietname e de propagar aí a fé cristã. Uma a uma, as delegações ocidentais foram abandonando as respectivas feitorias e, após 1700, apenas os portugueses eram capazes de manter relações comerciais com aquele país, numa época em que o declínio do império das quinas era já um processo irreversível. Ficaríamos por aí. Até hoje.

    Joaquim Magalhães de Castro

    em Lisboa

    Portugal – Vietname, 500 anos de História

  • David Hicks sobre Timor 1975

    Views: 0

    Antropólogo britânico recorda o “Paradoxo FRETILIN” de 1975 (mais…)

  • Os africanos em Portugal: de conversos a escravos

    Views: 2

    Os africanos em Portugal: de conversos a escravos (in diálogos lusófonos)<!--more-->
    
    
    
    Falta a Manoel Rodrigues da Silva Pereira, morador na Rua da Atalaya ao Bairro Alto, quase no meio da sobredita, um preto de nome Francisco José, de idade, pouco mais ou menos, vinte e dois anos, os sinaes pessoais são os seguintes: é bem feito, alto, grosso, bons olhos, com semblante alegre, a orelha furada com um brinco de topázio amarelo; de cabeleira redonda.
    Hebdomadário Lisbonense, n.o. 19, 8 de novembro de 1766.
    

    Um anúncio de fuga de escravos num periódico oitocentista carioca, baiano ou pernambucano, muito provavelmente, não provocará nenhum estranhamento nos leitores brasileiros, estudiosos profissionais ou investigadores diletantes da história nacional. No entanto, pode causar surpresa, mesmo no seleto grupo destacado, um anúncio desta natureza num periódico lisboeta setecentista, a exemplo deste que transcrevemos acima. Verdade é que desconhecemos, quase por completo, a história dos africanos e seus descendentes em Portugal. Mas que isso não seja motivo de constrangimento para os brasileiros, pois a própria historiografia portuguesa tem dado passos tímidos e temerosos nesta direção. Segundo Silvia Lara, em Portugal:
    o tema tem se desenvolvido quase na surdina, intrinsecamente ligado aos debates que cercam a própria história do Império Português. Com efeito, o significado político da escravidão em Portugal e nas “colônias” parece conter um potencial explosivo. (LARA, 2001:307-404)

    Nos primeiros séculos de contatos, inúmeros africanos foram levados a Portugal para serem instruídos na fé, na cultura e nas línguas ocidentais. Alguns desembarcaram em Lisboa como homens livres, eram representantes da corte do Mani Congo, embaixadores, parentes da família real. Destes, alguns poucos se tornaram intérpretes (então chamados “línguas”), catequistas e sacerdotes. Um médico alemão que visitou Portugal em 1494

    declarou ter visto muitos mancebos negros que tinham sido, ou estavam a ser, educados em Latim e Teologia, com o objetivo de os fazer regressar à ilha de S. Tomé, ao reino do Congo ou qualquer outro lugar, como missionários, interpretes e emissários de D. João II. (BOXER, 1989: 14-15).
    

    A política de controle da expansão do catolicismo, levada a cabo pelos soberanos do Congo, investiu na formação de um clero africano. Mesmo após a morte de seu filho bispo, o célebre D. Henrique, o Mani Congo D. Afonso I continuou enviando a Lisboa jovens sobrinhos e primos para serem educados no Mosteiro de Santo Elói (BOXER, 1989:16). Por outro lado, o empenho dos soberanos e religiosos portugueses na formação de um clero indígena indica uma postura “mais cordata”, tendo em vista o preconceito característico das relações dos europeus com africanos a partir do estabelecimento do comércio escravista em larga escala. Nesse sentido, as categorias de identificação utilizadas nos diferentes períodos revelam sistemas diversos de classificação, organização e, portanto, de percepção do africano.
    Nos primeiros séculos de contato, os africanos foram primeiro identificados como gentios, ou seja, povos pagãos, seguidores da “lei natural” que viviam, portanto, no erro e na superstição. No movimento de expansão do catolicismo, os gentios eram povos almejados pela catequese missionária (SOARES, 1998: 77,78). Vê-se então que, o proselitismo dos soberanos portugueses estava consonante com o projeto de expansão missionária. Entretanto, à medida que o comércio de escravos africanos fincava raízes no ocidente, a categoria gentio dava lugar a termos mais seculares e, portanto, mais apropriados aos novos interesses mercantis3.
    Sem a mesma sorte daqueles destinados a serem educados na fé e na religião católica, se é que assim podemos dizer, no decorrer dos séculos XVI a XVIII, milhares de africanos chegaram a Portugal na condição de escravos. Desde 1512, Lisboa foi o único porto do reino onde era permitido o desembarque de cativos. No entanto, efetivamente, até pelo menos a proibição de 1761, Setúbal, Porto e muitas outras cidades portuárias localizadas na região do Algarve receberam grande número de escravos africanos (LAHON, 1999A:32).
    “A importância que os portos algarvios, como Lagos, tiveram na importação de cativos fez da região uma das que, no conjunto do território português, contavam com maior percentagem de escravos na sua população” (FONSECA, 1996: 153). No século XVI, apesar do exclusivismo de Lisboa, em termos proporcionais, os números da população escrava no Algarve eram semelhantes aos da capital. Cerca de 6.000 escravos representavam algo em torno de 10% da população total da região. (LAHON 1999A: 13). Para o Alentejo, a partir de um significativo número de registros de batismo da cidade de Évora e principais vilas e termos rurais da região, Fonseca sugere um cálculo aproximado da população escrava. Segundo este autor, no período de 1588 a 1600, os escravos representaram 5,44% do total de batizados (FONSECA, 1997:15). Ao norte, a cidade do Porto possuía um movimentado mercado de escravos desde a segunda metade do século XV. Na década de 1540, os escravos chegaram a representar 6% dos batismos realizados na Sé Catedral (SAUNDERS, 1982: 83).
    Lisboa, “não era só a maior das cidades, mas também a maior das concentrações de escravos em todo Reino”. Um recenseamento das paróquias da cidade, realizado nos anos de 1551-52, permite concluir que Lisboa possuía uma população de 9.950 escravos, “isto é, 9,95% ou digamos que 10% da população total da cidade”. (SAUNDERS, 1982: 84). Em 1620, os escravos contavam 10.470 num total
    populacional de 143.000 (LAHON, 1999A:13).

    “Por amor de Deus”, as Misericórdias enterravam os pobres falecidos, incluindo neste rol os escravos e libertos negros (GUIMARÃES, 2001:116-17). Os livros de sepultamentos da Santa Casa de Misericórdia de Lisboa confirmam a presença significativa da população negra na cidade no decorrer do século XVIII. Em 1756, a Misericórdia fez o enterro de 1.235 pessoas, entre estes, 16,8% eram pessoas de cor. Na década de 1760, a população negra representa 15% dos defuntos enterrados pela Misericórdia, em alguns períodos chega a representar 17,8 % “e sua participação nunca fica abaixo de 12,7%, como o ocorrido no ano de 1765 (LAHON, 1999A: 50-1).
    No final do século XVI, havia em Lisboa escravos africanos de várias procedências. Em sua Crônica da Companhia de Jesus em Portugal, o padre Baltazar Teles registra que, no ano de 1567, um padre mestre dos jesuítas em Lisboa organizou um esquema de revezamento para que os escravos pudessem assistir à doutrina pelo menos um domingo a cada mês. Segundo seu esquema:

    cada Domingo sairiam à doutrina cinco nações, e como eram por todas vinte, as que então havia em Lisboa ficavam no mês caindo um Domingo para a doutrina e três domingos e os dias santos lhe ficavam livres para suas recreações.
    

    Esta grande variedade percebida pelos religiosos jesuítas tem uma explicação simples. As vias de abastecimento dos mercados ibéricos foram múltiplas e variáveis de acordo com cada época e conjuntura específica. O volume, bem como as vias de abastecimento do tráfico de escravos para Portugal e Península Ibérica, em geral são ainda pouco conhecidos. Na verdade, isto reflete um grande silêncio no que diz respeito ao tema da escravidão, tratado pela historiografia portuguesa “quase na surdina”. O tráfico é apenas uma entre tantas outras interrogações uma vez que, como afirma Lara “infelizmente continuam sendo poucos os estudos empreendidos por portugueses sobre a experiência dos africanos e seus descendentes como cativos, libertos ou livres no reino português” (LARA, 2001:387-404).
    De um modo geral, as origens geográficas e culturais dos cativos negros em Portugal eram semelhantes às dos escravos embarcados para as Américas. Nos séculos XV e XVI, “os escravos presentes em Lisboa, Algarve, Alentejo e Andaluzia, provinham principalmente de etnias que povoavam as regiões do atual Senegal até a atual Guiné-Bissau”. Muitos destes cativos foram identificados na documentação como procedentes de Cabo Verde. Esta “falsa” identificação” decorria do fato de que muitos originários das margens dos rios da Guiné e Senegâmbia, antes de serem vendidos para a metrópole, permaneciam em Cabo Verde por um período mais ou menos longo (LAHON, 2001).
    Embora a presença dos centro-africanos (congos e angolas) no contingente de cativos enviados para o Reino date do final do século XV, foi somente no final do século XVI e, principalmente, no início do XVII que esses africanos começaram a ser identificados com mais frequência na documentação. A partir de então, “as etnias que pertencem ao grupo lingüístico banto, constituem provavelmente, o maior contingente de escravos introduzidos em Portugal até 1761 ” (LAHON, 1999A:38).
    Nos séculos XVII e XVIII, era comum encontrar-se, entre a população cativa de Lisboa, escravos identificados como minas. Estes povos provenientes da Costa do Ouro, da Costa dos Escravos e do Golfo do Benin começaram a entrar em Portugal no período de intensificação do tráfico baiano com esta região africana (LAHON, 1999A: 71).
    Trabalhadores escravos de origem africana eram presença marcante nas cidades e vilas mais importantes do reino português. Em Lisboa, os escravos eram responsáveis por variadas tarefas: eram criados, cozinheiros, ferreiros, serralheiros, alfaiates, aguadeiros, caiadores e marítimos; entre as mulheres, destacavam-se as vendedoras ambulantes de tremoços, mexilhões, favas, bolos e outras iguarias, além das lavadeiras, trapeiras, aguadeiras e calhandreiras, entre inúmeras outras atividades. À semelhança do que ocorria na América, igualmente “negra era a mão da limpeza”. As negras de canastra, também chamadas calhandreiras, eram responsáveis por um serviço público importantíssimo. “Era o trabalho da remoção dos dejetos humanos (…) conduzindo-os em calhandras levadas sobre o ombro, ou equilibradas na cabeça, para despejo ao mar, na Ribeira” (TINHORÃO, 1997:114).
    Na Lisboa setecentista, seguindo a tendência de todo o Reino, prevaleciam os pequenos proprietários. Um grande número de senhores e senhoras alugava os serviços de seus cativos. No ano de 1709, as “pretas que vendem milho, arroz e chicharros cozidos ao povo nas escadas do hospital do Rossio” apresentaram ao Rei uma petição. Elas reclamavam das perseguições, maus tratos e espancamentos que vinham sofrendo da parte do corregedor e do alcaide daquele bairro.

    Sendo as suplicantes umas pobres pretas, que não tinham outro ofício mais que venderem ao povo aquele sustento naquele lugar das escadas do Rossio, pagando cada uma um cruzado, todos os anos, ao senado da câmara e nesta posse desde que o mundo era mundo, por si e suas antepassadas; por cuja razão recorriam todas ao pé de Vossa Majestade lhe acudisse e valesse na violência que lhes faziam os ditos alcaides, para que as deixasse vender no lugar das ditas escadas (...) sabido e certo lugar para o povo ir comprar o que as suplicantes vendiam, de cujo lucro pagavam a seus senhores para seu sustento, de seus maridos e filhos e forravam ainda para suas irmandades e liberdades (...).
    

    A maioria das negras que vendia nas escadas do Hospital do Rossio era do serviço de ganho. Elas reivindicavam o reconhecimento de sua atividade e local de trabalho com base no costume, uma vez que estavam nesta posse, segundo suas próprias palavras, “desde que o mundo era mundo”. Algumas negras de ganho conseguiam economizar o bastante para comprar sua alforria, de seus filhos ou outros parentes próximos. Economizar e contribuir para suas irmandades também contava entre as prioridades destas mulheres, assim como de muitos outros escravos e libertos, como veremos mais detalhadamente no artigo “África em Portugal”: devoções, irmandades e escravidão no Reino de Portugal, século XVIII .

    extrato do artigo “África em Portugal”: devoções, irmandades e escravidão no Reino de Portugal, século XVIII de Lucilene Reginaldo

    História (São Paulo) – “Africa in Portugal”: slavery, religious devotion and black brotherhoods during the 18

    “opinião” retirado de diálogos lusófonos

  • Macau o 1º livro impresso

    Views: 0

    via Henrique Manhão

    O primeiro livro impresso em Macau, assim chamada de “Portu Macaensi”, em latim, ocorreu em 1588 conforme comprovado na imagem acima, fato que foi comemorado por Armando Rozário (macaense de Cabo Frio, estado do Rio de Janeiro)), vindo a confirmar a sua informação na postagem neste blog em 20/07/2011 com o título “Macaense ou Macaensi, eis a questão“. (mais…)