2003 turismo cultural

A língua portuguesa e a UE alargada, J. Chrys Chrystello, 2003-06-02 [ Página principal | Página de publicações | Revista ELO | Índice ]

Dizem as estatísticas que Portugal não está preocupado com a expansão da UE, e os poucos que se pronunciam queixam-se da perda de subsídios que daí pode advir. Ainda ninguém perguntou que vantagem haverá para a língua e cultura portuguesas, provavelmente, fruto da falta duma política nacional da língua. A capacidade que temos em adicionar aritmeticamente os habitantes dos PALOP’s não se traduz numa politica de edição de traduções de consagradores autores para os leitores ávidos dos novos estados membros da UE, talvez por desconhecermos a cultura e hábitos de leitura desses povos. Para preservarmos a nossa versão da língua portuguesa é preciso mantê-la viva, e esta é uma oportunidade ímpar de atrair leitores para as nossas obras. Mais tarde viriam os que prefeririam ler as obras na sua língua original, bem fácil aliás de aprender para todos os falantes de línguas eslavas…

Como catapultar a língua e os livros portugueses da sua semiobscuridade para um cenário de ribalta? Quem se lembrou já de incluir roteiros turísticos literários a locais celebrizados pelos monstros sagrados da literatura dos séculos XIX e XX? Alguns constam já dos vulgares roteiros paisagísticos, havia apenas que organizar a leitura de livros desses autores, e a divulgação de novos escritores nesses locais, [um pouco como foi feito em abril 2003 com a atribuição do prémio Camilo Castelo Branco a Mega Ferreira]. Disponibilizavam-se traduções já existentes ou faziam-se reedições (económicas e sem luxos) para os milhares de turistas desses novos países que quererão vir a Portugal. Lucravam o país, os editores, os operadores turísticos e a língua.

Podíamos começar com o José Saramago e um roteiro às terras de origem acompanhado de leitura de obras suas, disponibilizadas em línguas dos países da UE, passando por locais evocados em “A Cidade e as Serras” e outras paisagens dos Açores de Nemésio, à Brasileira de Pessoa ou à Monsanto de Fernando Namora.

Convidavam-se professores jubilados que amam a Língua Portuguesa para falarem das mil e uma nuances de cada autor, pedia-se aos autores ainda vivos que disponibilizasse um dia do calendário para falar da sua obra ou lê-la num cenário apropriado. Estou certo de que a organização de tais eventos custaria menos do que muitas das funções oficiais já agendadas. A Europa alargada aí está, iremos continuar de costas voltadas com a nossa desculpa atlântica ou vamos descobrir novos mundos? Não precisamos de subsídios, tão só de vontade para esta revolução que continua por fazer, não precisamos de comissários, mas apenas de pessoas que amem a língua e cultura e que a achem sua.