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554. praia parcial na ribeira quente (ao rafael carvalho e viola da terra), 2 agosto 2012
as ninfas molhavam os pés
ao som de música tecno
escreviam sms aos ausentes
apagavam o sol com a peneira
como quem esquece a crise
entre mergulhos e risos
os taludes cresciam protegidos
os caterpillar passeavam no pó
as areias movediças iam e vinham
a praia vedada como em gaza
mergulhos sem medo de deslizamentos
na enorme cratera da praia
a velha coruja comia um gelado
sentou-se e foi-se sem deixar rasto
silente e amargurada
emigrados enriquecidos
peroravam infâncias perdidas
mescla de idiomas e ideias
ânsias de tempos idos
sem saudade da pobreza
apanágio doutras eras
com dólas se compra a felicidade
à distância de um continente
vidas que me não interessam
sucessos alheios
serei sempre um outsider
observo, perscruto, analiso
disseco vidas outras
recordo bali, eric clapton
i shot the sheriff em kuta beach
sem pistoleiros nem guerras
trégua longa como o verão que tardou
palavras por dizer
sentimentos por partilhar
a presença da filha
visita em lua-de-mel
evoca passados vários
alegrias, encantos e sonhos
quando os filhos ganham asas
sabemo-nos velhos
sem o sentir ou saber
neles se retratam imagens
sonhos, ventos e aragens
extensões de nós mesmos
606. viola da terra 2, ao rafael carvalho, 14 julho 2013
não fui a alfama ouvir o fado
não dancei o vira em viana
nem vi as sete saias da nazaré
não dancei a chamarrita do pico
nem sambei em copacabana
nem andei com os pauliteiros de miranda
não fiz teatro de sombras em bali
nem teatro em patuá de macau
e estive lá em todos os locais
mas encontrei-me com a viola da terra
à moda da ribeira quente
plangente com o rafael carvallho
rompendo o basalto e as brumas
era a voz de um povo silenciado
libertando-se em suaves melopeias
pairando sobre nuvens e ondas
tocando a alma deste povo açoriano