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Talvez o meu parágrafo preferido de 1984.
Cortesia de Rita Almeida Simões
(Exímia revisora desta tradução de 1984, de George Orwell, pela Penguin Clássicos, em breve na FLL e nas livrarias)
«A rapariga de cabelos pretos atravessava o campo ao seu encontro. No que lhe pareceu um só movimento, viu-a arrancar as roupas e livrar-se delas com desdém. Tinha um corpo branco e macio, mas Winston não sentiu por ele qualquer desejo, na verdade, mal lhe deu atenção. O que o fascinou nesse momento foi o gesto com que ela se livrara das roupas. Era como se a graça e a indiferença desse gesto extinguissem toda uma cultura, todo um sistema de pensamento, e o Grande Irmão, o Partido e a Polícia do Pensamento pudessem ser reduzidos a nada por um único e magnífico movimento do braço. Era um gesto que pertencia, também ele, a um tempo distante. Winston acordou com a palavra ‘Shakespeare’ nos lábios.»
(tradução de Catarina Ferreira de Almeida)