1975 a descolonização forçada de Timor

CONTINUANDO…

Hoje, vou apenas comentar a opinião de vários países acerca da invasão de Timor, efectuada pela Indonésia.
John G. Taylor, na sua presunção, escreve que “os escalões mais elevados do governo do MFA português continuaram, assim, imutáveis quanto à sua concordância sobre o direito da Indonésia mesmo até aos últimos dias da presença colonial portuguesa “ e que, paradoxalmente, “era irónico que o movimento que havia derrubado uma ditadura direitista na sua pátria terminasse sucumbindo tão cedo às exigências de um ainda mais brutal e autoritário regime militar”.
Já outro escritor escreveu que “caso praticamente único na história da descolonização, o partido nacionalista triunfante foi confrontado, não pela intransigência de uma potência colonial que se recusava a partir, mas pelos desígnios agressivos da potência vizinha que se recusava a escutar todos os pedidos para desistir das suas maquinações”.
Por sua vez, Jill Jolliffe comenta que “aos olhos da Fretilin e mesmo da UDT foi a política de apartidarismo ou ‘não intervenção do MFA’, em contrário à neutralidade activa praticada pelos portugueses em Moçambique, que foi imperdoável”.
O antigo primeiro-ministro australiano Whitlam , a uma pergunta que lhe foi feita poucos dias antes da invasão, sobre o que fariam no caso dela se concretizar, respondera, despreocupadamente, que “não fariam absolutamente nada”, pois estava muito mais interessado nas suas boas relações com a Indonésia… e, claro, no petróleo e gás de Timor.
Quanto aos Estados Unidos, “as violentas acções militares indonésias em Timor -Leste, não os levaram a tomar qualquer posição por considerarem que, outros factores nas relações entre os seus dois países, sobrelevavam qualquer interesse que pudessem ter naquele ‘minúsculo’ vizinho”, e que a Indonésia, além de “ser uma posição-chave para o seu país e os aliados da zona a consideravam como uma nação amiga e não alinhada, com a qual faziam muitos negócios”. Negócios esses que se traduziam, entre outros, no fornecimento de mais de 90% do material bélico empregado contra Timor, o que era mais que suficiente para colocarem, desavergonhadamente, os interesses estratégicos e comerciais à frente dos direitos humanos. Mas, já anteriormente os E.U.A. entendiam que “a melhor solução seria uma incorporação pacífica de Timor-Português na Indonésia “, ou “se a Indonésia desejasse intervir, esperavam que o fizesse eficazmente, rapidamente e que não utilizassem equipamento americano” (lérias! Para convencer).
A cumplicidade foi de todo o mundo:
Os australianos…soma e segue, já disse muito sobre os seus indecorosos desígnios; o Japão mostrava uma atitude discreta e prudente, não querendo deteriorar as relações especiais que tinha com aqueles três países; a Nova Zelândia não desejava uma Cuba naquela região e a Europa Ocidental, que, não aparentando uma especial preocupação, se mostrava como se a questão não lhe dissesse respeito.
Quanto aos nossos velhos aliados, (amigos de Peniche), já o seu chefe da chancelaria da embaixada inglesa na capital Indonésia — Gordon Duggan —, em 21 de Julho de 1975, segundo relata Lemos Pires, no seu livro, em mensagem para Camberra, era de opinião que “…conforme visto por cá, é de interesse da Inglaterra que a Indonésia absorva o território logo que possível e com o menor espalhafato, e se se chegar a uma situação em que haja problemas nas Nações Unidas, devemos manter a cabeça baixa e evitar tomar uma posição contra o Governo da Indonésia (e, ao longo dos anos, manteria essa mesma posição, até quando, em 15 de Setembro de 88, o seu euro-deputado Brian Cassidy apresentando um relatório favorável à Indonésia, ao mesmo tempo que classificava os deputados portugueses como “um grupo mafioso”.
Por último, até os dois colossos comunistas — a China e a então União Soviética — que, muito cautelosos, mostravam muito pouca vontade de intervir e de se lançarem numa aventura de resultados duvidosos…
…sem esquecer Portugal de comportamento, sempre dúbio, aparentemente ‘simpático e compreensivo’, não menos ignóbil e demasiado lerdo (propositadamente?) a pedir a ajuda das Nações Unidas, afinal, tudo e todos conluiados ou cinicamente neutrais.
Que restava àquele pobre povo fazer?
Os ditos “mauberes” ficavam irremediavelmente sós. Ignorados. Desavergonhadamente abandonados. Traídos.
Segundo Ramos Horta: “O nosso fado foi a colonização portuguesa e a nossa tragédia foi termos sido marginalizados no processo de descolonização por revolucionários sem sentido de história e de dignidade nacional”.
Todavia, no seu livro “Amanhã em Díli”, por cavalheirismo ou, talvez, por se lembrar que tem sangue lusitano, escreveu que “é fácil responsabilizar Portugal e a Indonésia pelo que se passou em 74/75, mas nós, líderes políticos de então, e que hoje continuamos à frente da Resistência Timorense, somos os primeiros e últimos responsáveis pelos nossos actos… O povo de Timor-Leste foi, e ainda é, vítima da nossa irresponsabilidade colectiva, dos erros de julgamento de alguns e da indiferença de demasiados”.
Concordo, mas só parcialmente. E os seus primeiros erros foram, na sua parte, o de ter quase forçado a ser presidente quem não tinha qualidades para tal, que era intrinsecamente indonésio, quando, ou ele ou o Nicolau Lobato, eram detentores de muito mais valores e competência; no que respeita à UDT, por razões semelhantes, deveria ter sido indigitado para seu líder máximo, ou o Mário Carrascalão ou o Domingos de Oliveira. Creio que não estou errado.

CONTINUAREI…