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E assim ia Timor
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A cadela acabara de dar à luz. Dos seis cachorrinhos havia um que se destacava pela cor. Era completamente cinzento. Achou tanta graça ao bicho que resolveu adoptá-lo. Passou a viver no seu quarto e a acompanhá-lo para todo o lado. Chamou-o de Lassut que era o nome do cônsul da Indonésia. Tinha conhecido o senhor numa das festas no palácio do governo e não tinha gostado da pinta dele, mas gostou do nome e então deu-o ao cão. Para nós, a Indonésia, era como a Espanha, naquele tempo, para Portugal, vizinhos sim, mas de costas voltadas. Sukarno, do outro lado, pagava-nos na mesma moeda, mas não chateava. Nesse ano, 1959, num gesto de boa vizinhança, três navios da Armada dos tipos, visitaram Timor. Achou-se conveniente recebê-los com pompa e circunstância. Com ele, tinham chegado a Timor os primeiros-oficiais artilheiros para criarem a Artilharia na ilha, só que não havia peças nem obuses de grande porte e, enquanto estes não chegavam, os ditos militares dedicaram-se a fazerem levantamentos topográficos. Mas o Governador queria receber os indonésios com salvas de artilharia. O Aviso Afonso de Albuquerque encontrava-se no Porto chegado da Índia havia pouco tempo, ainda na senda de, mostrar aos dissidentes que o Império não abandonava os seus territórios e, antes pelo contrário, os defendia com denodo. O Governador solicitou ao Comandante que fosse o Navio a “salvar” os visitantes. O Comandante agradeceu a “honra”, mas informou o Governo Provincial de que se as peças fossem disparadas provavelmente teriam que regressar à Metrópole para apertar os parafusos e, dado que teriam que navegar tantas milhas, certamente iriam ao fundo com a água que meteriam. Face a esta recusa, os nossos rapazes artilheiros, apelando ao seu profissionalismo, lá foram descobrir uns obuses de 5,5 cm artilharia de montanha, usada desde a 1.ª guerra mundial, normalmente transportada a dorso de mulas. Havia munições (granadas) mas a pólvora das caixas dos cartuchos estava fora de prazo. Os nossos garbosos rapazes não se enrascaram e toca de aproveitar antigas munições japonesas deixadas na ilha aquando da ocupação durante a 2.ª guerra mundial. Feitas as primeiras experiências tudo ficou certo. No dia da chegada dos navios as salvas foram executadas, 15 tiros… no último a caixa da culatra do obus explodiu e o nosso cabo artilheiro foi-se… Mais uma vez, a Providência esteve com os Portugueses… morreu o militar, mas a missão foi cumprida. E assim seguia a nossa presença no Mundo.
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