Arquivo mensal: Agosto 2014

Macau por Ian Fleming (o do 007)

Macau por Ian Fleming
imagens da 1ª edição de Thrilling cities, de Ian Fleming

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imagens da 1ª edição de Thrilling cities de Ian Fleming
publicitadas em Viagem por Macau
de Cecília Jorge e Beltrão Coelho

Thrilling Cities cover artO ouro, de mãos dadas com o ópio, desempenha um papel excepcionalmente secreto em todo o extremo Oriente e Hong Kong e Macau, a minúscula possessão portuguesa a apenas cerca de quarenta milhas de distância, são o eixo deste tráfico clandestino. O rei do ouro do Oriente é o enigmático Dr Lobo, da «Vila Verde», em Macau. Irresistivelmente atraído, gravitei na sua direcção, com o contador Geiger de um escritor de thrillers a pulsar furiosamente.

O Richard Hughes e eu apanhámos o Takshing, um dos três famosos ferries que diariamente cobrem a distância até Macau. Estes ferries nada têm a ver com as decadentes, semi-destruídas e fumarentas embarcações, comandadas por um marinheiro escocês ensopado em whisky que, geralmente, vemos no cinema; são vapores de três cobertas, cómodos e dirigidos com uma precisão profissional. (…)

No extremo norte da Deep Bay está Macau, uma península com cerca de um décimo do tamanho da ilha de Whight, que é o mais antigo entreposto europeu da China. Foi fundada em 1557 e é famosa, principalmente pelo seu farol, o primeiro a ser construído em toda a costa da China. Orgulha-se, também, de ali estarem sepultados Robert Morrison, o missionário protestante que compilou o primeiro dicionário de Chinês-Inglês em 1820; George Chinnery, o grande pintor irlandês da paisagem oriental; e o tio de Sir Winston Churchill, lord John Spenser Churchill. É também conhecida pelas gigantescas ruínas da Catedral de S. Paulo, construída em 1602 e destruída pelo fogo em 1835 e finalmente – tomem bem nota! – pela «maior casa de má fama» do mundo.

No que diz respeito ao seu mais importante cidadão, o Dr Lobo, as características mais interessantes de Macau residem no facto de não haver imposto de rendimento nem qualquer controlo cambial, havendo uma total liberdade de importação e exportação de moeda estrangeira ou ouro e prata em barras. Considerando apenas o caso das barras de ouro, é extremamente fácil para qualquer pessoa chegar de ferry ou hidroavião, ou vir simplesmente da China Comunista, situada a uns 50 metros, do outro lado do rio, comprar qualquer quantidade de ouro, de uma tonelada a uma simples moeda, e sair totalmente às claras, de Macau, com o seu espólio. (…) Estes considerandos tornam Macau um dos locais do comércio mais interessantes do mundo e com muitos segredos.

Ao chegarmos à entrada da baía fomos confrontados com um esplendoroso cenário. O sol punha-se e, na sua esteira, ficava uma espectacular frota de muitas centenas de juncos e sampanas. (…)

A marginal era uma espantosa mescla de gudões apodrecidos publicitando em anúncios descoloridos pelo sol, que eram por exemplo, A FÁBRICA DE ÁGUAS GASOSAS ou a KWONG HUNG TAI FIRECRACKER MANUFACTURING COMPANY, intervaladas com fachadas degradadas de antigas mansões privadas, com os mais requintados, ainda que delapidados, estuques e cantaria barroca. Toda a vida é assim. Uma amálgama dos muito ornamentados estilos europeus do século XVIII, princípios do século XIX, com o mau gosto do moderno betão armado; e de pomposas mas horríveis vivendas. Metade das ruas são vielas empedradas e o outra metade modernas avenidas meio desertas, e onde nos pretensiosos cruzamentos o ocasional riquexó aguarda a desnecessária mudança do semáforo para o verde. Em suma, o local é tão pitoresco e mortiço como um lindíssimo cemitério.

Retemperámo-nos no Macau Inn (Pousada de Macau), no cruzamento da marginal com a Travesa do Padre Narciso. Ali contactámos com «o nosso homem em Macau» e bebemos tépidos gin tonics debaixo da figueira de Bengala, enquanto me esclareciam sobre os quatro «Grandes» que, com o Governo Português em pano de fundo, controlam muito bem tudo o que se passa neste enigmático território. (…) Eram, na altura, e por ordem de importância, o já mencionado Dr P. J. Lobo, que toma conta do ouro; o sr. Foo Tak Yam, que se encarrega do jogo e actividades associadas que poderemos descrever de forma mais lata por «diversões», e dono do Hotel Central (…), e o Sr. Ho Yin, intermediário-chefe nos negócios com a China Comunista. A fortuna dos quatro senhores cresceu durante, e depois da guerra – durante a Guerra, através do comércio com os japoneses, que então ocupavam o Continente chinês, e, depois da guerra, durante a época dourada em que o porto de Macau abarrotava de navios vindos da Europa, no contrabando de armas para a China Comunista. Esses tempos transformaram Macau numa cidade em ebulição, quando uma simples rua, que atravessa metade da cidade, a «Rua da Felicidade», era uma grande e continua vaga de prazer; e quando, mandado construir pelo Sr Foo, o edifício de nove andares do Hotel Central, o maior antro de jogo e vício do mundo, sugava «a nata» dos hedonistas. (…)

Fomos aconselhados a escolher entre o entre o Fat Siu Lau, «O Amantíssimo Buda», na Rua da Felicidade, célebre pelo pombo chinês, e o Long Kee, famoso pelo peixe. Escolhemos o «Amantíssimo Buda», jantámos excelentemente, e dirigimo-nos ao Hotel Central, cuja finalidade e desígnios recomendo vivamente àqueles que se preocupam com os princípios da moral inglesa.

Fui despertado, na manhã seguinte, pelo estrondoso som europeu dos sinos da catedral e o toque suave e distante de cornetins militares. Aperaltámo-nos para o almoço com o Dr. Lobo. Desde que a revista Life trouxe Macau para a ribalta, em 1949, o doutor tornou-se muito desconfiado em relação a escritores e jornalistas, mas o nome mágico de um amigo de Hong Kong até mesmo esta porta nos abriu e portanto, à hora combinada, um «secretário» de aspecto poderoso num maltratado Austin castanho veio buscar-nos. Tínhamos passado a manhã a observar o árduo trabalho de uma cooperativa comunista, no outro lado do rio, admirado a imponente fachada da catedral de São Paulo, sobre a qual os pedreiros japoneses cristãos semearam imensos dragões e esqueletos alados entre os anjos, e tomado nota do hospital fundado por Sun-Yat-sen em 1906.

Nem o Austin nem o desgastado Chevrolet que mais tarde nos transportou de regresso ao ferry, nem a «Vila Verde», que mais se assemelharia a um Wimbledon tropical, dariam a entender que o Dr. Lobo valesse os cinco ou dez milhões de libras que lhe atribuem. À primeira vista, o Doutor, no seu impecável fato azul, engomado colarinho branco e óculos sem aros, parecia mais um gerente bancário ou um dentista (na verdade ele começou a vida como oculista) que se pode encontrar na mais benigna Wimbledon. O Dr. Lobo é de pequena estatura, um chinês-malaio magro, de lábios cerrados e olhos sem expressão. Anda pelos setenta anos de idade. Recebeu-nos cerimoniosamente numa sala de visitas de gosto suburbano, parcimoniosamente mobilada, com um pequeno altar católico por cima da ombreira da porta, uma grande oleografia do séc. XIX representando o céu e o inferno (…). Embarcámos numa inócua conversa sobre os prós e os contras do álcool e do tabaco, nenhum dos quais, segundo nos disse, seduzia o Dr. Lobo.

Um lampejo de interesse brilhou-lhe nos olhos quando referi ter-me constado que ele era um notável compositor amador. O Doutor disse que tinha sido violinista e tinha mesmo dado concertos em Hong Kong. (…) Rapidamente, entregou-nos um disco intitulado «Gems of the Orient», em gravação particular da «His Master´s Voice». (…) O Doutor colocou no gramophone «Waves of the silent Seas» (…).

Mudei de posição, adoptando a postura inclinada, com os olhos fechados, que habitualmente adopto em concertos e ópera. Nada mais podia fazer a não ser pensar noutras coisas até que terminassem os dois lados do disco mais longo que até hoje ouvi. (…) eu comentei algo sobre «espantoso virtuosismo» e «talento multi-facetado». E então, graças aos céus, serviram o almoço.

A sala de jantar do Dr. Lobo está forrada a toda a altura da parede com cristaleiras de vidro lapidado que cintilavam a ponto de incomodar, dando-nos a impressão de estar sentados no meio de um gigantesco candelabro. A sopa morna de macarrão e legumes era prenúncio de uma refeição para esquecer, e portanto, delicadamente, abordei o assunto do ouro. (…)

Permiti-me também ser informal. O Dr. Lobo tinha a reputação de ser um homem muito rico. Não receava ser raptado? (…) Tornou-se mais animado. «Eu tomo precauções» – disse. «Tenho cuidado. Temos uma excelente polícia Macau». (…)

As Tongs ou a Tríades, irmandades criminosas que operam em todas as cidades do Oriente? (…) Tinha ouvido dizer que essas pessoas eram muito poderosas, especialmente no tráfico do ópio. O ópio era um assunto muito triste! O Dr. Lobo tornou-se eloquente. «É um coisa terrível, Sr. Fleming. Essa gente troca todo o seu dinheiro por ópio. Cedo perdem o interesse pela comida e depois pelas mulheres. Tornam-se assexuados, castrados, e desgastam-se (…)».

«Mas que acha do meu café? É mesmo meu, das minhas propriedades em Timor». A conversa derivou para nulidades polidas e era quase chegada a hora de o Dick e eu apanharmos o ferry. Mas primeiro, disse o Dr Lobo, teríamos de ir ver a sua estação de rádio. Saímos para o jardim e, realmente, ali estava um edifício em betão, do tamanho de um campo de squash, a «Rádio Vila Verde», fornecendo, entre outras coisas, entretenimento aos habitantes de Macau. (…) Uma estação de rádio pareceu-me ser um acessório maravilhoso para um homem que negoceia em todos os mercados de ouro em barra do mundo. Boas comunicações são a espinha dorsal do negócio. E foi o que eu disse.

O Dr. Lobo mostrou-se magoado. «Esta estação serve apenas para distrair, Sr. Fleming». «Claro, com certeza» – disse eu, e saímos, voltando as costas ao inocente edifício, para sermos fotografados com o Dr Lobo, pelo secretário, após o que fomos presenteados com um exemplar do «Gems of the Orient», com a devida dedicatória. (…)

Ele é o que parece ser: um operador cuidadoso, astuto, que escolheu um ramo de negócio exótico, que pode ter originado muitos problemas e dissabores nas cadeias de distribuição, para desgosto, sem dúvida, dos grossistas. Cabe-lhe agora a respeitabilidade de todos os milionários que envelhecem, juntamente com os louros da boa cidadania – um doutoramento em ciências indeterminadas e, duas semanas depois de eu ter estado com ele, a nomeação para o cargo de Presidente do Concelho Municipal de Macau, um posto equivalente a Presidente de Câmara.

hotel Boa Vista
imagem da publicidade do Hotel Bela Vista
(Boa Vista, na época) de 1900, e menu de 1989

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livro de receitas açorianas

https://www.iloveazores.net/2014/08/livro-de-receitas-dos-acores-faz.html#.VADr1TJ_uo0

 

A luso-americana Maria Lawton publicou um livro de receitas açorianas nos Estados Unidos, “Azorean Cooking: From My Family Table to Yours”, e já vendeu mais de dez mil exemplares.

Livro de receitas dos Açores faz sucesso nos EUA
ILOVEAZORES.NET
http://www.iloveazores.net/2014/08/livro-de-receitas-dos-acores-faz.html#.VADr1TJ_uo0

Álamo Oliveira doa 6 mil livros

Muito bem !

“Sendo eu do Raminho e ficando o Raminho distante das duas cidades [da ilha Terceira], achei que seria uma mais-valia para as pessoas consultarem livros, para se fazer recitais de poesia ou apresentações de livros”, explicou o autor, em declarações à Lusa.
alamo
Na Biblioteca Álamo Oliveira, inaugurada hoje, na freguesia do Raminho, do concelho de Angra do Heroísmo, é possível encontrar “muita ficção, muita poesia e muito teatro”, mas também livros de arte e de história, bem como revistas temáticas, suplementos culturais dirigidos pelo escritor e recortes de jornais com textos dele.
No entanto, o grande destaque da biblioteca vai para a coleção de literatura açoriana, guardada ainda na casa do escritor, que continua a viver na sua freguesia natal.

Muito bem !

açoriano ilustre mas pouco conhecido

Mário Roberto
14 mins ·
Artigo do Almanaque Silva sobre o trabalho gráfico na revista O Mosquito dum açoriano ilustre mas pouco conhecido pelos açorianos, Eduardo Teixeira Coelho (Angra do Heroísmo 1919-Florença 2005) autor de banda desenhada, ilustrador..

Dextrogiras e levogiras

Dextrogiras e levogiras

Dextrogiras e levogiras
Vilões e heróis batem-se a murro e pontapé em incríveis piruetas nas capas d’O Mosquito, a mais amada das revistas infanto-juvenis portuguesas dos anos quarenta. Em saloons e pradarias do oe…
ALMANAQUESILVA.WORDPRESS.COM
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J. H. Borges Martins in nas barbas de deus, edições salamandra, 1999

sinais dos tempos

ele é como a nuvem do nascente
que transporta a água
e o vento

não quis revelar a sua face aos
tecnocratas e banqueiros

nunca se sentou na cadeira do papa
nem foi rei ou presidente
de nenhuma nação

não quis habitar em palácios
e templos
edificados pelas mãos dos homens

nem tentou apreciar o incenso
e a fama
das lautas mesas

(era aguardado como um pato
ou animal doméstico)

julgaram que não usasse o chicote
da sua ira para açoitar
os vendilhões
das crenças e direitos humanos

andou por toda a parte e falou manso
e claro
como a água das nascentes

(mas nem os próprios amigos
o entenderam)

nunca vendeu
o corpo e a alma por um prato dourado
de lentilhas.

J. H. Borges Martins in nas barbas de deus,
edições salamandra, 1999

Etiquetas: Atividades do PRL, Poemas

Planta endémica dos Açores em vias de extinção redescoberta na ilha do Corvo

Planta endémica dos Açores em vias de extinção redescoberta na ilha do Corvo
25-08-2014 16:36

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© Hanno Schäfer, Myosotis azorica
Encontrados cinquenta exemplares da planta “Não-me-esqueças” em falésias costeiras da Ilha do Corvo, nos Açores, após os últimos cinco indivíduos terem sido avistados em 2012. Os especialistas querem agora definir um plano de ação para a produção da planta em viveiro.

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“Não-me-esqueças” é o nome pelo qual é conhecida a planta Myosotis azorica, descrita pela primeira vez em 1842 pelo britânico H. C. Watson e que existe apenas nas ilhas das Flores e do Corvo, no Açores.

Em tons de azul-marinho intenso, a “Não-me-esqueças” é uma planta rara e que os especialistas temem estar em vias de extinção, já que as últimas vezes que tinha sido avistada foi na ilha das Flores, em 2001, e apenas cinco exemplares numa falésia na ilha do Corvo, em 2012.

Agora, no início do mês de Agosto, investigadores e técnicos da Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA) e da Universidade Técnica de Munique, na Alemanha, organizaram um estudo de prospeção às falésias costeiras da Ilha do Corvo e redescobriram vários exemplares da planta “Não-me-esqueças”.

«Os esforços destes quatro dias de expedição levaram à redescoberta da “Não-me-esqueças”, com uma população estimada em cinquenta plantas com flor e com produção de sementes, dando-nos a esperança que este tesouro único sobreviverá nas próximas gerações», afirma Carlos Silva, técnico da SPEA, citado em comunicado da SPEA.

O especialista explica que «embora a maioria da vegetação endémica da ilha do Corvo tenha sido cortada ao longo dos séculos pela necessidade de sobrevivência dos habitantes, há ainda vestígios de endemismos que necessitam de ser recuperados para evitar a sua extinção, dos quais se destacam a “Não-me-esqueças” e a Veronica dabney, que valorizam muito mais a ilha como Reserva da Biosfera da Unesco».

Hanno Schafeer, investigador da Universidade Técnica de Munique, afirma que no caso da planta “Não-me-esqueças” a «grande ameaça para a sua sobrevivência, e para outras plantas e aves costeiras, é a elevada pressão de pastoreio das 245 cabras e ovelhas selvagens que habitam as encostas do Corvo e onde se localizam as maiores falésias do Atlântico Norte».

Pelo que «a “Não-me-esqueças” só está fora do alcance destes herbívoros nas falésias mais declivosas e inacessíveis, que infelizmente são muito instáveis e colapsam, podendo levar ao desaparecimento desta rara planta».

Dada a raridade da Myosotis azorica, a SPEA em colaboração com o Parque Natural de Ilha do Corvo e a Universidade Técnica de Munique estão a definir um plano de ação que permita aumentar o número de exemplares desta planta através de produção em viveiro.